Há cinquenta anos (28 de Outubro de 1966) o general de Gaulle dava (mais) uma das suas solenes conferências de imprensa. Os temas - que, recorde-se, haviam sido preparados de antemão com os jornalistas que aparentemente colocavam as questões - foram predominantemente vocacionados para a política externa mas, mesmo assim, extremamente variados: a independência da França, tanto em relação ao bloco Ocidental quanto ao de Leste, a Guerra do Vietname e a política norte-americana para o Sudeste asiático, a admissão do Reino Unido na Comunidade Europeia, a nova política da França em relação à NATO, a force de frappe (nuclear) francesa, o destino da colónia francesa de Djibuti, o comportamento da economia francesa e as reacções da bolsa de Paris, finalmente as eleições legislativas que teriam lugar na Primavera do ano seguinte (Março de 1967). A dissertação (disfarçada) de de Gaulle tomou bem quase uma hora e meia (veja-se abaixo a transmissão integral) e os jornais do dia seguinte - mesmo os portugueses - dedicavam um extenso espaço das suas páginas a descodificá-la - porque nem o Ricardo Costa, nem a SIC ainda eram nascidos. Sobretudo, a sua extensão merecia uma versão sintética, algo que já não é assim tão pertinente nos dias que correm - raramente há acontecimentos onde o protagonista pontifique por hora e meia, com excepção de um palco ou de um campo de futebol... Entre as conclusões mais marcantes destacava-se a convicção mostrada por de Gaulle de que os britânicos adoptavam uma política externa que se limitava a ser uma extensão europeia dos interesses norte-americanos; por ele, manter-se-ia o veto à admissão do Reino Unido na Comunidade Europeia. Meio século depois o episódio torna-se irónico. Menos conhecido, mas não menos irónico, é um comentário proferido por de Gaulle a respeito do comportamento das bolsas, « Em 1962, a bolsa estava excessivamente boa, em 1966 está excessivamente má. Mas, sabem, a política da França não se faz a gosto do freguês.» (« En 1962, la Bourse était exagérément bonne ; en 1966, elle est exagérément mauvaise. Mais, vous savez, la politique de la France ne se fait pas à la corbeille.») Só lá faltava tentar impressionar uma raposa velha como de Gaulle com uma versão precoce das opiniões políticas de Os Mercados. Em França isso não conta nada...
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