18 outubro 2016

HISTÓRIA DA RESTAURAÇÃO 1814-1830 (1)

Em 1823, Luís António, o duque de Angoulême foi enviado por seu tio, Luís XVIII de França, para Espanha, à frente de um corpo expedicionário de 60.000 homens. Apesar dos seus 48 anos, o duque não era um militar e a direcção da campanha ficou a cargo do seu chefe de estado-maior, o general Guilleminot, por ironia um general de Napoleão, veterano de Waterloo. Mas a missão política de que o duque fora encarregado é que era importante: repor Fernando VII no trono de Espanha como rei absoluto, o bisneto de Filipe V (que fora o fundador da dinastia Bourbon em Espanha). Essa vitória política de instalar um Bourbon nos seus devidos direitos, ainda que no reino vizinho, representava uma espécie de sublimação por interposto país (da falta) de prestígio da Restauração que acontecera em França depois da queda de Napoleão. A Restauração francesa original acontecera por imposição das potências inimigas e não existia um feito de armas condigno que a justificasse. É para contornar isso que o episódio foi vivido em França de uma forma desproporcionada e que Paris é, ainda hoje, embelezada por uma enorme praça baptizada de Trocadéro em homenagem a um episódio menor dessa campanha, ocorrido perto de Cádis. É nesse mesmo espírito que foi pintado o quadro acima, assinalando o retorno triunfante do duque e das suas tropas a Paris, em 2 de Dezembro de 1823. Ao centro, sentado, está obviamente o monarca, Luís XVIII, a quem o duque presta a competente homenagem. Por detrás do duque, vêem-se à distância as tropas que desfilam pelos Campos Elísios e, ainda mais longe, um Arco do Triunfo de significado (ainda) incomodamente napoleónico. Do lado esquerdo do rei está o seu irmão e sucessor, Carlos X, pai do homenageado. Do lado direito as mulheres e as crianças da família real. O pequeno duque de Bordéus (3 anos), que seria então o terceiro na ordem de sucessão ao trono, acena com um chapéu emplumado, mostrando a continuidade da dinastia dos Bourbons de França. O autor da pintura é Jean-Louis Ducis (1775-1847), um discípulo menos conhecido e menos inspirado de David.

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