09 outubro 2016

CENAS CADUCAS DO OCASO DE UM IMPÉRIO

Em Outubro de 1972, há precisamente 44 anos, Santos e Castro preparava-se para assumir o cargo de Governador-Geral de Angola para o qual acabara de ser recentemente nomeado. Partia para Luanda viajando de barco e a cerimónia da largada do navio do cais de Alcântara ainda se revestia de uma ritualização que a evolução dos tempos mas também das tecnologias tornava já então caduca. Era surpreendente a importância dada pelas figuras gradas do regime a um evento que hoje é do domínio da arqueologia protocolar: era a apresentação dos cumprimentos de despedida. O presidente do Conselho, Marcelo Caetano, fazia-se representar, mas a cerimónia era abrilhantada pela presença de nada menos de 6 - ministros - 6: os do Ultramar, Interior, Justiça, Finanças, Marinha e Obras Públicas, «além de outras altas individualidades». Uma banda tocou o Hino da Cidade e o Angola é Nossa. Depois o navio partiu. A viagem até Luanda do novo Governador-Geral duraria quase duas semanas. Ao longo desse mesmo mês e num ritmo totalmente diferente, o norte-americano Henry Kissinger andava num frenético vaivém transatlântico, a acompanhar as negociações que, em Paris, procuravam pôr fim à Guerra do Vietname, ainda a tempo do anúncio da paz influenciar as eleições presidenciais de Novembro. Num outro registo, mais prático e menos político, até as forças armadas portuguesas se haviam deixado das cenas propagandísticas dos embarques, tendo adquirido um ano antes uma frota de Boeings 707 (abaixo) para o transporte muito mais rápido das tropas para o Ultramar. Só o Portugal político parecia vogar ao ritmo da ilusão de que o tempo era um factor que funcionava em seu favor.

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