7 de Março de 1932. Em duas notícias separadas da mesma edição de jornal - com os antetítulos significativos de «O Momento Político» e «A Situação Militar» - podiam compreender-se de forma cristalina as manobras de bastidores conducentes à promoção de Salazar para a presidência do Governo e, através dela, para a liderança do regime. Ambos os artigos eram relativamente desenvolvidos. Um deles era uma transcrição do Diário da Manhã, o jornal oficial da União Nacional - a única organização política permitida pela Ditadura Militar. Esse começava logo por dizer ao que vinha: «A situação prestigiosa do sr. ministro das Finanças no País e diante do estrangeiro é a única força política poderosa da Ditadura Nacional». Mas o outro artigo estava estruturado ao contrário: depois de transcrever as opiniões de «Fiel Viterbo, presidente da comissão municipal da União Nacional», do «comandante Francisco Monteiro, da Liga 28 de Maio» e «do sr. tenente-coronel João Luís de Moura» (governador civil de Lisboa), rematava com a conclusão «A razão de ser da Ditadura é o sr. dr. Oliveira Salazar, essa figura prestigiosa, com uma inteligência lúcida, com um espírito cintilante, animando todos com as suas leis, sem nada pedir a ninguém». As intenções políticas de há noventa anos são transparentemente evidentes. Salazar era o homem desejado pelo sector mais autocrática do regime*, mas porquê o exagero de o querer fazer passar por único? Porque é que os panegíricos têm de ser sempre assim, incomodativamente sabujos e por isso asquerosos, qualquer que seja a época em que são escritos?...
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