26 março 2022

«OPÇÕES DIFÍCEIS» (MAS MUITO CLARAS)

A invasão russa da Ucrânia foi mais um pretexto para o país dos opinadores se dividir noutro Benfica e Sporting. Divisão essa que se realça com o aparecimento de uma nova figura mediática chamada generais comentadores que, aparentemente, torcem todos pelo mesmo clube. Já aqui considerara a classificação excessiva. Em primeiro lugar porque nem todos os generais torcem pelo clube da Rússia. Em segundo lugar, compreendo-os, porque há razões para que os generais com o perfil dos nomeados tenham tendência para ficar formatados para torcer pelo lado (russo) que escolheram. E em terceiro lugar, porque creio que é a comunicação social que selecciona precisamente aqueles generais que lhes dão maior garantia de polémica. Porém, admitindo tudo isto, e absolvendo-os com isso da sua parcialidade congénita, isso não me parece razão para ser absolutamente indulgente com tudo o que eles dizem e escrevem. Como será o caso do general Carlos Branco, num texto de ontem, intitulado «Opções Difíceis», publicado no Jornal de Notícias. O texto é clarinho, clarinho, para militar perceber. As opções são «difíceis», mas só se põem à Ucrânia: «ou ceder para preservar a sua soberania e integridade territorial (...); ou continuar os combates acreditando que vai vencer a guerra, e capitular em condições muito desfavoráveis.» Em contraste, para a Rússia e ainda na opinião do general Carlos Branco: «Para o Kremlin, esta guerra é existencial, e, como tal, não pode ser perdida. As consequências geoestratégicas seriam insustentáveis.»

Ora o general não está a fazer uma avaliação estratégica - técnica - da situação que se vive naquele extremo da Europa, está meramente a fazer considerações ideológicas sobre o desfecho do conflito. Que o Kremlin não goste de vir a perder o conflito, concordo. Que a vitória da Rússia seja certa, é apenas uma aposta pessoal do general Carlos Branco. Incorporado apenas em Novembro de 1976, o general Carlos Branco já é demasiado novo para ainda ter participado como cadete da Academia Militar nas cerimónias que todos os 10 de Junho se realizavam na Praça do Comércio. Também aí se ouviam profissões de fé, de como Portugal era uno do Minho a Timor, de como não se podia perder a guerra no Ultramar, de como aquilo que restava aos terroristas eram abrigarem-se ao abrigo benevolente da soberania portuguesa. Sabemos como tanta certeza ideológica acabou depois... Uma guerra assimétrica como a que está a decorrer na Ucrânia é, pela sua própria natureza e lógica, de desfecho imprevisível. E as simpatias do general Branco não lhe deviam toldar as cautelas como devia avaliar a situação.

Sem comentários:

Enviar um comentário