06 março 2022

QUANDO O DESTAQUE HISTÓRICO É A NOTÍCIA NÃO TER SIDO NOTICIADA

6 de Março de 1922. A denominada «Capelinha das Aparições», uma pequena construção (acima) que fora erigida na Cova da Iria, em Fátima, em 1919, assinalando o local das aparições de 1917, é dinamitada durante a noite (vejam-se abaixo os estragos causados no telhado). A autoria do atentado é, evidentemente, atribuída a círculos anti-clericais, e os autores, também evidentemente, nunca vieram a ser descobertos. 
Mas o que torna este acontecimento verdadeiramente interessante é o facto de ele não ter sido noticiado na imprensa de então. Quando, dali por dias (a 8 e 9 de Março de 1922), o Diário de Lisboa publica os dois artigos abaixo, com referências às «bombas» («de ontem» e «de Março»), o vespertino lisboeta está-se a referir a outras bombas, arremessadas contra os carros eléctricos em circulação, por ocasião de uma greve da Carris.
Sobre o atentado ocorrido em Fátima, dois dias antes, nada se soubera, nada se publicara. Ironicamente, no dia anterior ao atentado (5 de Março de 1922) fora o Diário de Notícias que publicara um artigo na sua primeira página sobre «os inconvenientes da censura telegráfica». Artigo muito oportuno: porque, ou havia um problema de conexão telegráfica entre Leiria e Lisboa(!), ou seriam as redacções dos jornais de Lisboa que desvalorizavam o que acontecera em Fátima?

2 comentários:

  1. Sim.
    Mas nesse tempo havia, creio eu, muitas bombas. Noticiavam-se todas?
    E uma bomba contra um carro elétrico, no qual há pelo menos uma pessoa (o guarda-freio), é mais importante do que uma bomba contra uma casinhota onde ninguém mora.
    Além disso, o mito de Fátima demorou muitos anos a construir. Em 1922, creio eu (já li um livro sobre o assunto, mas esqueci), Fátima tinha bem menos centralidade na iconografia religiosa do que tem hoje.
    E uma bomba que só destrói o telhado devia ser uma bombinha.

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  2. E uma bomba que só destrói o telhado devia ser uma bombinha

    Lavoura, diga-me só onde mora, que eu vou lá de noite colocar-lhe uma «bombinha» inofensiva! (na cozinha, para não o incomodar no quarto) E fá-lo-ia de bom grado para o ver a engolir a consequência das palavras disparatadas que debita nas redes sociais.

    Um bom princípio é não mandar palpites baseado em «livros sobre o assunto» entretanto esquecidos.

    Para mais, analisar as verdadeiras causas para esta omissão podem depender do raciocínio (e não da leitura), nomeadamente compreender - o que não é o seu forte, Lavoura! - o princípio, subentendido mais do que assumido, de que «Portugal é Lisboa, o resto do país é paisagem».

    Ou acha que em 1922 rebentavam quotidianamente tantas bombas por essas aldeolas de Portugal, a ponto de não ser preciso dispensar três ou quatro linhas num jornal a informar que acontecera isso numa capelinha perto de Leiria? Pois eu desconfio que o facto de se tratar de uma capela influenciou a «opção jornalística».

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