15 de Março de 1972. No mesmo dia em que se estreava O Padrinho na América (ver poste anterior), aparecia a crítica musical supra no Diário de Lisboa, da autoria de José Jorge Letria. O criticado era o cantor irlandês Gilbert O'Sullivan e a crítica era demasiado narrativa e, quando avaliadora, podia-se ler um parágrafo assim: «Por isso se falou em primeiro lugar de O'Sullivan, um indivíduo de aspecto bizarro, que considera a intelectualização da música uma coisa estúpida e de si próprio, para o consumo uma imagem falsa para estimular a compra». Confesso que a frase será, porventura, de uma intelectualidade demasiado avançada para que se consiga compreender totalmente, mas é inescapável o sentido depreciativo que o crítico lhe pretendeu conferir. Crítico esse que, recorde-se, era «um dos nomes mais destacados da canção da resistência» (sic, como se pode ler na wikipedia) Para o que interessaria, o disco e as canções, remetidos para o fim do texto, ficava-se a saber quase a terminar que uma das canções se intitulava «Alone Again, (Naturally)». Hoje sabe-se que essa canção veio a alcançar o nº1 das vendas em França, nos Estados Unidos, no Canadá, nº 2 na Irlanda e nº 3 no Reino Unido, mas o crítico musical (e cantor da resistência!) nem cheirou o seu potencial sucesso, que ele não parecia andar nestas coisas da crítica musical para avaliar a qualidade e o eventual sucesso comercial das canções.
Cinquenta anos depois, creio que vale a pena cometer a crueldade de fazer a prova do tempo e dar a oportunidade de apreciar a inspiração musical do criticado comparada com a do crítico, e para o efeito escolhi uma canção do mesmo José Jorge Letria de 1973, «Quem te avisa teu amigo é». A crueldade do gesto - o gesto de expor a mediocridade musical de José Jorge Letria, entenda-se - também se reflectirá no leitor deste poste, caso ele se disponha - como lhe sugiro - a ouvir atentamente esta última canção, e tenho que pedir desculpas aos leitores pelo facto (em nome de José Jorge Letria).
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