02 março 2022

PUTIN E O PASSADO

(Em 20 de Março de 2013 - já há nove anos, portanto - publiquei no Herdeiro de Aécio o poste abaixo, a respeito da Guerra de Inverno de 1939-40, e das declarações proferidas a propósito por Vladimir Putin, branqueando os propósitos imperialistas e expansionistas da Rússia soviética. As circunstâncias envolventes tornam possível realçar algumas analogias entre a situação daquela altura - a invasão da Finlândia - e a que agora se vive entre a mesma Rússia e a Ucrânia. Mas alerto que convém proceder com moderação na evocação das semelhanças... De todo o modo, no fim, a Finlândia teve que se vergar às exigências de Estaline. Mas o que eu quero relembrar do poste então publicado, é que já então Putin dizia as coisas mais descaradas do revisionismo histórico e o resto do Mundo era de uma indulgência indesculpável para com o que ele dizia...)
Ao encontrar-se na quinta-feira passada com uma delegação de historiadores militares, o presidente russo Vladimir Putin declarou, a propósito da comemoração dos 73 anos do fim da Guerra de Inverno contra a Finlândia (1939-40), que a mesma se podia justificar pela intenção do seu antecessor Estaline em rectificar os erros que haviam sido cometidos no traçado da fronteira soviético-finlandesa, estabelecida originalmente em 1917 quando da secessão daquele país do Império Russo. Prosseguindo, Vladimir Putin admitiu os erros militares iniciais dessa campanha, apenas para os fazer contrastar com a mobilização que se seguiu que fez com que a Finlândia sentisse todo o poderio do estado russo (então soviético). Em remate, expressou o seu apoio à construção de um memorial em homenagem aos mais de 125.000 soldados do Exército Vermelho que tombaram naquele conflito.
Esta Guerra de Inverno travada entre a União Soviética e a Finlândia tornou-se um exemplo canónico de uma guerra imperialista, em que a potência mais forte impõe a sua vontade ao mais fraco. Também a parte do traçado da fronteira que mais incomodava os soviéticos, a sua proximidade de São Petersburgo (então Leninegrado), não data de 1917 como se depreenderia das palavras de Putin, mas de 1815 e do Tratado de Viena que estabeleceu a anexação do Grão-Ducado da Finlândia pelo Império Russo. Mas todos estes lapsos empalidecerão se imaginarmos, para comparação e em paralelo, o que aconteceria se Angela Merkel se decidisse a apoiar a construção de um memorial aos soldados alemães tombados na campanha da Polónia em 1939, argumentando que a iniciativa se justificaria com a intenção do seu antecessor Hitler em rectificar erros dos traçados fronteiriços do Tratado de Versalhes…
Seria o assunto tratado desta mesma forma recatada pela comunicação social de todo o mundo? Ou não? É para equilibrar os pesos nesta balança histórica desequilibrada que nunca me canso de chamar a atenção neste blogue para as virtudes da dialéctica… As denúncias dos crimes dos fascismos e do nazismo já estão muito bem servidas.

4 comentários:

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    1. Koenigsberg é a atual Kalininegrado. Não tem nada a ver com a Finlândia. Fica muito mais a sul.

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  2. Fala-se muito desta "guerra de inverno" mas omite-se a segunda guerra URSS-Finlândia, de 1941 a 1944, na qual a Finlândia foi a invasora em vez de ser a invadida.

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    1. Fala-se muito desta "guerra de inverno" mas omite-se a segunda guerra URSS-Finlândia

      Nem por isso. Aqui no Herdeiro de Aécio há, entre outras ligações,
      esta referência expressa a essa Guerra de Continuação, mencionando inclusive um livro cá de casa que a narra.

      Se, mais do que saber superficialmente que existiu, tivesse lido alguma coisa detalhada a respeito dessa outra guerra a que alude, Lavoura, saberia que a «invasão» da Finlândia entre 1941 e 1944 se circunscreveu praticamente - para grande irritação dos alemães - à recuperação dos territórios que a União Soviética a havia obrigado a ceder em 1940.

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