Já há muitos anos, numa entrevista, perguntaram ao realizador Alfred Hitchcock, ele que era um especialista em fazer filmes que assustavam os espectadores, o que é que o assustava a ele. E a resposta veio surpreendente, irónica e sibilina, como era seu estilo: polícias. Tomada por uma blague na altura em que foi proferida, o tempo encarregou-se de demonstrar a seriedade do que Hitchcock quereria dizer. A sua condição de interventores dentro do sistema permitia-lhes (e permite-lhes ainda) uma impunidade que só agora tem vindo a ser denunciada a partir da difusão de câmaras de TV que lhes denunciam os gestos. Uma notícia de hoje dá como batido em 2022 o record de pessoas mortas anualmente pela polícia nos Estados Unidos: foram 1.176 - quase 100 mortos em média por mês, mais de 3 por dia. Aparentemente e apesar do que Alfred Hitchcok dissera muito antes disso, nos Estados Unidos só se terão apercebido no século XXI que a conduta pistoleira das suas forças policiais era um verdadeiro problema social, e só há estatísticas com os mortos decorrentes da acção policial a partir de 2013. Não que essas estatísticas pareçam ter tido qualquer consequência nos resultados (que flutuam entre 1.000 e 1.200 mortes por ano), mas sempre se vai sabendo que morre muita gente às mãos da polícia e que há uma demagogia pró-policial que se especializou em desviar-nos as atenções, queixando-se da demagogia anti-policial.
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