18 janeiro 2023

GRAÇA FREITAS: UM RECONHECIMENTO MERECIDO, EMOTIVO... MAS DECEPCIONANTE

O que aconteceu sintetiza-se por um qualquer título ou subtítulo de uma das notícias de ontem: «Graça Freitas foi condecorada por Marcelo Rebelo de Sousa pelo seu trabalho na Direção-Geral da Saúde durante a pandemia». Outros órgãos de informação resolveram dar um realce adicional (acima) à emoção da cerimónia. Mas o que nenhum deles terá feito foi a verificação em que grau o gesto do presidente da República corresponderia às suas palavras laudatórias proferidas para a ocasião:

«Uma capacidade para tudo aguentar quase sem limite. E era uma provação diária. Todos os dias, a horas que eram conhecidas - às vezes variavam para se ter os últimos dados da situação -, os portugueses esperavam as notícias dadas pela Dra. Graça Freitas. Passou a ser um elemento da família, de todas as famílias portuguesas. (...) É por isso que vou entregar-lhe as insígnias da grã-cruz da Ordem do Mérito, como agradecimento de Portugal, dos portugueses, todos eles, por uma dedicação à causa pública de muitos anos, mas, sobretudo, uma dedicação em dois anos que valeram por uma eternidade.»

Aparentemente não. Ainda há cinco anos, o mesmo presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, entregou a mesma condecoração - Ordem do Mérito - no mesmo grau - grã-cruz - ao antecessor imediato de Graça Freitas no cargo de director geral de Saúde, Francisco George, quando ele abandonou o cargo, o que também acontece agora com Graça Freitas. Avaliando a decisão da presidência e por detrás da retórica, parece existir uma tabela burocrática de condecorações a atribuir aos funcionários públicos que, e ao contrário do proclamado no discurso, nem mesmo o combate com sucesso à eclosão de uma pandemia parece ter podido alterar. Para directores-gerais a chapa parece ser a grã-cruz da Ordem do Mérito e não haverá razão válida para mais. Só nos últimos 20 anos foram concedidas cerca de 200 condecorações desta mesma ordem neste mesmo grau. Eu, pessoalmente, reconheço-lhe mais. Claro que, como grão-mestre de todas as ordens honoríficas nacionais, Marcelo Rebelo de Sousa é soberano na decisão. Mas, em minha opinião, esteve mal. Assim como esteve mal, como de costume, a comunicação social portuguesa que, sobre estes assuntos de condecorações, anda completamente a Leste... Como escreve José Pacheco Pereira, só come do que lhe põem no prato; sobre isto, ninguém tem interesse em chatear Marcelo. 

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