Todos aqueles que imaginaram que a posse na semana passada do novo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, iria ser o fim definitivo de um ciclo da política brasileira, perceberam ontem, pelas imagens que chegavam de Brasília, que isso não passou de uma daquelas ilusões com que se sonha. Entre nós, se as televisões se precipitaram para cima do acontecimento, repetindo, repetindo, repetindo sempre as mesmas imagens com opiniões por cima, o comentário dos brasileiros era quase unanimemente preenchido por simpatizantes pró-Lula, como aliás acontece de costume em Portugal. Só que ontem a parcialidade da nossa comunicação social parecia-me até justificada: qualquer bolsonarista moderado e com juízo preferiria dispensar-se de comentários sobre aquilo que se estava a ver. Restavam os outros bolsonaristas, dos quais só dei por um na SIC Notícias, já pegado com Ricardo Costa - é dele a frase da noite, ao referir-se ao que estava a acontecer como a reedição do assalto ao capitólio mas em versão de loja do chinês - e com o brasileiro a dizer disparates monumentais, como o de nos querer assegurar que o voto dele não fora contado... Assim, com factos alternativos (assentes em realidades alternativas), reconheço que não vale a pena apresentar o outro lado da notícia. O outro lado da notícia sintetiza-se bem, sem mais explicações, nos cartazes daqueles senhores empoleirados na fotografia acima (Intervenção Militar! Todo Poder emana do Povo!). Como já havia acontecido, de resto, há dois anos durante a cobertura televisiva da invasão do capitólio de Washington, aos simpatizantes dos assaltantes só lhes resta o exercício patético de tentar convencer os espectadores que não estão a ver o que estão a ver. Quanto aos outros, os bolsonaristas que não simpatizam com os assaltantes, alguns deles talvez porque se obteve resultados contraproducentes, e por muito que se reclamem democráticos, suspeito que todos eles nos brindarão com um ribombante silêncio.
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