24 abril 2016

OS CRAVOS NÃO TÊM DONO

Quanto mais o tempo passa, mais o que aconteceu se esvanece e mitifica e mais importante se torna recordar o que é essencial, que o 25 de Abril se fez por todos e para todos os portugueses, mesmo para a liberdade daqueles que preferem não o celebrar, em suma, que os cravos não têm dono. Abaixo, recorda-se uma notícia publicada pelo Diário Popular em 19 de Maio de 1975 a pedido de José Afonso, mostrando como os ídolos (também) tiveram pés de barro e por que terá sido preciso, mesmo indispensável, um 25 de Novembro de 1975. Tanto houve (e continua a haver) os que não queriam andar de cravo ao peito como houve (e não os continuará a haver?) os que queriam selecionar quem poderia cantar o «Grândola, Vila Morena».
«Tendo lido nos jornais diários a notícia de que, no decurso de um comício - piquenique, promovido no passado dia 11, pelo P.P.D., teria sido cantada em coro a canção «Grândola, Vila Morena», venho por este modo reafirmar que, muito embora considere a canção desvinculada de qualquer ideia de autoria, a fiz em tempos (há cerca de 12 anos) fora de imaginar qualquer abusiva apropriação cantante por parte de grupos ligados ao capital deste ou de qualquer outro país.
Considero pois abuso ou despudor, dadas as características populares com que no início da sua história como canção, foi «utilizada» em ambientes e situações de luta, que os mesmos indivíduos que designam para os representar à Assembleia Nacional Constituinte defensores da censura fascista e continuadores da ordem colonial, se sirvam dela para lançar poeira aos olhos dos incautos.
Tomo ainda a liberdade de lembrar o significado dos factos que recentemente se verificaram em Setúbal, dos quais fui parcialmente testemunha, onde comprovadamente se mostrou inequívoco o papel repressivo que o P.P.D. adoptou contra as massas populares, de que resultaram ferimentos em 20 pessoas (9 baleadas) e a morte do jovem João Manuel».
Lisboa, 14 de Maio de 1975,
Respeitosamente, José Afonso

1 comentário:

  1. Meu caro,
    para se dizer que falámos das flores:

    http://odemaia.blogspot.pt/2016/04/mary-poppins-e-o-25-de-abril.html

    Abraço,
    da Maia

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