Tem um significado particularmente irónico a coincidência de que a notícia de que Angola se viu forçada a pedir ajuda ao FMI ocorre precisamente quando se completam cinco anos de que Portugal teve de fazer o mesmo. Unidos pela lusofonia há, contudo, uma diferença substantiva a acentuar a fragilidade da situação. É que em Angola dificilmente imaginaremos um José Eduardo dos Santos a comparecer na televisão nacional prestando satisfações aos seus concidadãos sobre os caminhos que conduziram à situação presente. Mesmo sem o fazer, até para nós, portugueses, que acompanhamos a situação à distância, se torna difícil compreender como um país com tanta gente que por cá exibe incomensurável riqueza se apresenta bruscamente em débil situação financeira perante o Mundo. Esclareça-se, para evitar controvérsias, que a presença de José Sócrates na TV não o eximiu, nem o exime, das responsabilidades de ter conduzido o país aonde o conduziu, mas só o facto de ali se apresentar coloca a nossa sociedade a uma distância tal da angolana que só pode ter sido por tacticismo que houve partidos (PSD/CDS/PCP) que invocaram os argumentos que invocaram para recentemente não aprovar uma moção condenando o regime angolano na condenação de 17 activistas. Desculparam-se ali práticas que não se toleram ao Estado Novo e descobre-se, numa outra ironia final, por estas mostras de despotismo de Estado que é possível ver em regimes como o angolano - via regime colonial - um discípulo mais fiel do que nós das heranças por lá deixadas daquilo que por cá foi derrubado a 25 de Abril.
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