29 abril 2016

COMO UMA CONVERSA DE PUTAS

A lógica da argumentação como se tem defendido preventivamente os potenciais implicados pelos The Panama Papers é engraçada: a evasão fiscal não é condenável só por si, só o é se os capitais evadidos tiverem sido obtidos de forma ilícita - o que tentará desculpabilizar os titulares do dinheiro velho que vierem a aparecer nas listas. E dizem-se mais coisas: a prática já vem de há muito, desde os anos 70 do século passado, ou então que é muito difícil pôr-lhe cobro, porque seria preciso uma autoridade mundial para o fazer. Vindo de quem vem, pessoas de formação liberal que normalmente são pessoas de irrepreensíveis padrões morais em tantos outros aspectos sociais, estes argumentos parecem-me, considerada a amoralidade para onde pretendem remeter a prática da evasão fiscal, perdoe-se-me a franqueza, uma conversa de putas. É que, a propósito delas, e do que não é incomum ouvir a esse mesmo grupo de pessoas em público, e justapondo este caso dos The Panama Papers (que tanto prometeram, mas que já começaram a cansar a audiência ainda antes de revelarem algo de substantivo) com conhecidos e famosos casos de costumes (abaixo), não me recordo de que a revelação da clientela dos bordéis de luxo - por exemplo - fosse temperada antecipadamente pelos activistas da amoralidade fiscal com um alerta para que a prostituição é prática antiga (é aliás conhecida como a mais antiga profissão do mundo), ou para que houvesse uma distinção entre os clientes solteiros dos outros que as frequentassem sendo casados ou comprometidos, porque só esses é que seriam passíveis de condenação. Começo a achar que este liberalismo do século XXI está a revelar-se tão dialéctico quanto o comunismo do século XX.

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