Há 36 anos, a 12 de Abril de 1980, a Libéria registava o primeiro golpe de Estado da sua História. E com isso a história da Libéria fundia-se com a dos restantes países africanos onde tais acontecimentos eram por essa época bastante frequentes: não havia ano em que não ocorresse um ou outro golpe de Estado em algum país africano. Do ponto de vista formal a história da Libéria era um pouco distinta da dos restantes países do continente. A esmagadora maioria destes últimos haviam sido em alguma época colónias formais de países europeus. A Libéria nunca o fora, porque o país que exercia essa função - os Estados Unidos - não o assumia. Portanto a Libéria era um país pseudo-independente desde 1847 - a bandeira era uma cópia da dos Estados Unidos (abaixo), as instituições outra cópia e havia até uma classe de colonos que se sobrepunha aos nativos - eram os negros emancipados dos Estados Unidos e de outras origens americanas que eram encorajados a retornar a uma África que pessoalmente nunca haviam conhecido. Essa classe, que nunca superou os 5% da população liberiana, dominou a Libéria durante os primeiros 130 anos da sua existência. Até este famigerado golpe de Estado de 12 de Abril de 1980.
O golpe em si foi uma daquelas demonstrações de como as instituições dos novos países africanos - e a Libéria apesar dos mais de cem anos de independência não se distinguia deles - eram frágeis e passíveis de serem derrubadas com limitadas exibições de força. Como imaginara Frederick Forsyth quando escrevera o livro Os Cães de Guerra (1974), um punhado de quadros e umas dúzias de combatentes podiam apoderar-se de todo um país africano onde as estruturas do poder estivessem demasiado centralizadas. Na Libéria em 1980, os insurrectos eram apenas 17 e comandados por um sargento decidido que ainda não completara 29 anos chamado Samuel Doe. Invadiram o palácio presidencial, executaram o presidente William Tolbert e o regime colapsou por completo. Pormenor não despiciendo: nenhum dos 17 militares conspiradores pertencia à minoria de ascendência afro-americana... Com a sua promoção de sargento a presidente, Samuel Doe deve ter batido o record africano da ascensão política, mesmo num continente conhecido pelo protagonismo súbito dos militares de baixa patente (é na América Latina que quem costuma promover golpes de Estados são os generais...). Os episódios que se seguiram, contudo, o ajuste de contas com a elite de ascendência afro-americana, produziram imagens de violência selectiva e que já não tinham muito a ver com a coreografia mais benigna dos outros golpes de Estado, como é o caso das execuções dos ministros do anterior governo cuja fotografia encima este poste. O ciclo de violência então iniciado sobreviveu à execução do próprio Samuel Doe em 1990.
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