Nunca me canso de me surpreender como os (cada vez mais) velhotes da geração do PREC persistem em alindar os relatos daquela época, como se os excessos da confrontação política de 1974 a 1976 não tivessem passado de uma gigantesca história infantil. Na sequência deste episódio das bofetadas prometidas por João Soares a Augusto M. Seabra, a ocorrência foi pretexto para conferir alguma notoriedade ao segundo, a vítima da violência. Numa notícia publicada no jornal i com esse intuito, há uma passagem deliciosa nessa infantilização desresponsabilizadora. Aprecie-se essa passagem, que consta do penúltimo parágrafo e que eu tomei a liberdade de a ir comentando:
Durante o Verão Quente de 75 Seabra fez parte do MES (Movimento de Esquerda Socialista), tendo vivido aí um episódio recordado por um antigo camarada daquele movimento. “O Augusto é asmático (...) Em 75, em pleno PREC, houve uma manifestação organizada pelo PS a favor da liberdade de imprensa e contra a manipulação dos órgãos de informação do Estado pelos comunistas. (entre aqueles que o PS acusava de manipulação dos órgãos de informação do Estado contava-se precisamente o MES, daí a necessidade de) Na sede do MES, na av. D. Carlos I, tomámos medidas de segurança máximas. Quando um grupo de manifestantes avançou, a tropa lançou gás para cima deles”. (...) “Eu estava no sótão, onde havia uns tipos deitados com G3 prontos para disparar, e comecei a ver aquela malta toda a correr." (Não se especifica quem eram "os tipos deitados com G3", se militares ou se civis, no primeiro caso, quem fora o oficial responsável que os mandara para ali defender a tiro uma sede partidária, no segundo caso quem lhes fornecera as armas para o fazer).
Não percamos de vista que o que desencadeou todo este processo foi a violência inusitada passada a escrito por João Soares no seu facebook, enquanto que há 40 anos, a potencial vítima desse algoz constituiria a guarda avançada de uma sede partidária que era defendida com armas de guerra - e contra manifestantes radicais do Partido Socialista! Uma bofetada hoje valerá muito mais do que a intenção de balear uns rivais há 40 anos. Quando contadas por eles, os velhotes da geração do PREC, o país real de 1975 parece transformar-se numa gigantesca brincadeira, qual episódio da Abelha Maia que por aqueles tempos entretinha as crianças da Revolução em Curso.
Durante o Verão Quente de 75 Seabra fez parte do MES (Movimento de Esquerda Socialista), tendo vivido aí um episódio recordado por um antigo camarada daquele movimento. “O Augusto é asmático (...) Em 75, em pleno PREC, houve uma manifestação organizada pelo PS a favor da liberdade de imprensa e contra a manipulação dos órgãos de informação do Estado pelos comunistas. (entre aqueles que o PS acusava de manipulação dos órgãos de informação do Estado contava-se precisamente o MES, daí a necessidade de) Na sede do MES, na av. D. Carlos I, tomámos medidas de segurança máximas. Quando um grupo de manifestantes avançou, a tropa lançou gás para cima deles”. (...) “Eu estava no sótão, onde havia uns tipos deitados com G3 prontos para disparar, e comecei a ver aquela malta toda a correr." (Não se especifica quem eram "os tipos deitados com G3", se militares ou se civis, no primeiro caso, quem fora o oficial responsável que os mandara para ali defender a tiro uma sede partidária, no segundo caso quem lhes fornecera as armas para o fazer).
Não percamos de vista que o que desencadeou todo este processo foi a violência inusitada passada a escrito por João Soares no seu facebook, enquanto que há 40 anos, a potencial vítima desse algoz constituiria a guarda avançada de uma sede partidária que era defendida com armas de guerra - e contra manifestantes radicais do Partido Socialista! Uma bofetada hoje valerá muito mais do que a intenção de balear uns rivais há 40 anos. Quando contadas por eles, os velhotes da geração do PREC, o país real de 1975 parece transformar-se numa gigantesca brincadeira, qual episódio da Abelha Maia que por aqueles tempos entretinha as crianças da Revolução em Curso.
Curiosamente, noto também que nos membros da geração que não viveu este período e que se tem dedicado ao seu estudo (em registo jornalístico leve e até leviano, ou histórico pretensamente mais elaborado), hoje com idades compreendidas entre os 30 e os 40 anos, e sobretudo se do sexo feminino, existe a tendência dominante para considerar o PREC, mais do que uma história infantil, um gigantesco Carnaval inócuo e sem consequências de maior gravidade para o país, o que de todo em todo corresponde à realidade dos factos, como sabem todos os que viveram esse período e que, na verdade, foi bem angustiante (com excepção porventura para aqueles que teriam tirado do mesmo PREC plenos dividendos, houvesse esse conseguido chegar ininterrupto ao seu destino final).
ResponderEliminarÀquele grupo que caracteriza em primeiro lugar eu creio que ainda se pode perdoar a ignorância, por muito que ele seja complementada pela falta de disposição para aprender mais qualquer coisa sobre o período em causa - pode ser muito mais denso do que a série televisiva «Conta-me como foi»...
ResponderEliminarMas aos segundos de que fala, os que viveram esse período não posso perdoar, porque a sua intenção de transformar tudo no que caracteriza - bem - por um Carnaval inócuo não pode deixar de ser maliciosa. Não nos podemos esquecer que aqueles palhaços do PRP-BR ou da LUAR, por muito que tenham sido condecorados pelo Jorge Sampaio, continuavam a preconizar a luta armada para implantar os seus regimes, mesmo depois da ditadura ter sido derrubada.
...e depois ainda se pretende que se elogie a presidência de Jorge Sampaio só porque se distingue quando em comparação com a de Cavaco Silva que foi uma calamidade. Há pessoas na esquerda que, pelos vistos, não sabem a diferença qualitativa entre medíocre e mau.
Em 1975, Sampaio até poderia estar na sede de que acima se fala...
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