12 abril 2016

APENAS A METADE DA HISTÓRIA ou A COMPARAÇÃO DA MORTE DO XERIFE COM A MORTE DO ÍNDIO MAU

Há precisamente 71 anos morria inesperadamente Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) enquanto as operações militares da Segunda Guerra Mundial na Europa se aproximavam aceleradamente do fim antecipando o colapso militar da Wehrmacht. Em Lisboa, o regime prestava a vassalagem ao grande vencedor do conflito que estava prestes a terminar do modo que as notícias do Diário de Lisboa da edição do dia seguinte (13 de Abril - abaixo) permitem esclarecer: o presidente do Conselho Salazar apresentava-se na embaixada dos Estados Unidos para apresentar pessoalmente os pêsames ao embaixador; seguia-se-lhe todo o elenco governamental fazendo o mesmo; o presidente da República Óscar Carmona enviava um expressivo telegrama de condolências ao novo presidente Harry Truman; no dia seguinte, ao meio-dia, realizava-se um serviço fúnebre a que comparecia o governo e o corpo diplomático (aliado e neutral) acreditado em Lisboa em peso (e em traje de gala); e por determinação governamental, as bandeiras seriam colocadas a meia haste durante os três dias seguintes em sinal de luto.
Menos de três semanas depois era Adolf Hitler (1889-1945) que se suicidava no seu bunker em Berlim. Para o vencido, as expressões de luto em Lisboa eram muito menos exuberantes conforme se pode ler abaixo na descrição do mesmo Diário de Lisboa. Eram poucas as legações que exibiam as suas bandeiras a meia-haste: o Vaticano, a Espanha, a Alemanha, a Suíça, a Suécia e o Japão, tudo países neutrais ou, no caso japonês, o último aliado da Alemanha. Nessa ocasião, nem Salazar, nem o restante governo entenderam por bem comparecer pessoalmente na embaixada alemã, preferindo em vez disso enviar as suas condolências. Tão pouco a missa de sufrágio contará com a presença das figuras tão destacadas e engalanadas que haviam comparecido no serviço fúnebre de Roosevelt. Vae Victis. Ficou a restar a cortesia mínima de mandar colocar as bandeiras a meia haste durante os três dias de luto por morte de um chefe de Estado no exercício de funções, como manda o protocolo. Mas, sem o enquadramento que aqui fiz e para os que o desconhecem, ou conhecendo-o, se comprazem em distorcer a História em função das suas convicções ideológicas, até isso pode ser apresentado como uma manifestação pró-fascista muito grave...

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