Mesmo visto à distância de um oceano, seja qual for o resultado da votação dos deputados a respeito da destituição de Dilma Rousseff, o problema prolongar-se-á pois a faccção derrotada, qualquer que ela venha a ser, já mostrou reservar-se o direito de recorrer às ruas para fazer vingar os seus pontos de vista. O poder tem destas coisas, nós nem nos apercebemos delas quando existem só por si (o nosso PREC já acabou há 40 anos...), mas o poder em abstrato e em qualquer país do Mundo ganha muito quando é naturalmente consentido e acatado pelo povo. O problema do Brasil será que, quando existem listas de cinquenta parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção ou magistrados promovidos ao estatuto de super-heróis justiceiros, o opróbrio associado afecta não apenas os agentes do poder directamente visados como também os homólogos e a própria estrutura do poder e essa aceitação pacífica esvai-se. Já se esvaiu e estou para ver como é que ele se reconstrói... Embora a expressão seja originalmente do português europeu, um brasileiro aperceber-se-á decerto que não estou a prognosticar nada de bom para o seu país quando antecipo que o Brasil está feito ao bife...
Muito provavelmente. E como é que o povão se não dá conta disso?
ResponderEliminarNão sei se não se dá conta disso. A experiência já me ensinou a distinguir entre o que o povão pensa - e isso costuma exprimir-se activa ou passivamente em eleições livres - e aquilo que a informação filiada a uma ou outra facção política nos quer convencer ser aquilo que o povão pensa.
ResponderEliminarNeste caso concreto, suspeito que haverá gente - mas não assim tanta gente quanto nos querem convencer - que quer correr com a Dilma. E do outro lado haverá outra gente a defendê-la, mas também não muita. Na verdade, desconfio que uma apreciável percentagem do povão também não considera ter razões nem para atacar nem para defender a Dilma.
Parafraseando o Joãozinho Trinta, questões de regime como estas elaborações que eu escrevo para aqui são coisas de intelectual.