Na mesma Avenida da Liberdade onde, no cinema Tivoli, do outro lado da rua e no Outono de 1939, se apelava ainda a um Grande Milagre por causa da eclosão da Segunda Guerra Mundial, exibia-se num qualquer outro dia de Março de 1961 no cinema São Jorge, A Vítima do Medo (Peeping Tom). Lisboa sofisticara-se durante os 22 anos que separam as duas fotografias, como se comprova pelos três carros estacionados à porta do cinema, embora a comparação nesse aspecto com os dias actuais seja do domínio da ficção científica. O género do filme era outro, o terror e, embora tenha tido um percurso comercial muito discreto naquela época, com o tempo ele veio a tornar-se em um dos mais importantes clássicos do género. E, mais uma vez, daquele título, A Vítima do Medo, também se pode extrair uma relação com os acontecimentos do momento, porque a placidez da fotografia é contemporânea com os acontecimentos no Norte de Angola, a insurreição da UPA e as chacinas que a acompanharam. Vítima e Medo eram palavras que tinham um significado muito concreto nesses dias de Março de 1961...
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