30 de Novembro de 1960. Dois dias depois de, como aqui se evocou, a França ter concedido a independência à Mauritânia, a sua 14ª colónia africana a alcançar esse estatuto naquele ano, em Lisboa, o presidente do Conselho protagoniza uma cerimónia de resposta àquilo que se designa por «campanha anticolonialista». Na Assembleia Nacional ficou marcada para as 18H30 uma sessão especial em que António Salazar fará uma «exposição» sobre o actual momento político internacional e as pressões que o governo português tem vindo a receber a respeito dos seus territórios dependentes. A «exposição» será transmitida em directo por todas as emissoras de rádio e também pela recém aparecida televisão, numa emissão completamente excepcional. Quanto aos jornais, de que é aqui exemplo o Diário de Lisboa, esses reservam uma terceira edição com o conteúdo do discurso de Salazar, que teve a duração de aproximadamente uma hora.
Quanto ao conteúdo da «exposição», esse poderá deduzir-se facilmente das palavras escolhidas para o título da primeira página, mais acima. No seu estilo característico e falando diante de um auditório complacente, Salazar desconversa, satisfeito com as alterações constitucionais de 1951, como se o expediente pudesse iludir os actores políticos internacionais, como se o tempo político não passasse e a ordem internacional permanecesse essencialmente na mesma. Contudo, se por cá olhássemos para a Europa colonizadora e as nossas grandes referências, no Reino Unido falava-se dos «ventos de mudança» que varriam África e em França, para além da 14 independências já concedidas, preparava-se um referendo sobre a autodeterminação da Argélia. Salazar bem poderá vir ainda a criar em 1965 aquela expressão do «orgulhosamente sós», mas esta caminhada para o isolamento não tem qualquer escapatória, a 60 anos de distância percebe-se que era um disparate político total.
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