23 de Novembro de 1970. Em lugar de destaque (primeira página), mas ainda assim num formato discreto e conciso, dá-se conta da última decisão do papa Paulo VI (então com 73 anos), a de excluir futuramente os cardeais que tivessem atingido os 80 anos das votações para a eleição daqueles que viessem a ser os seus sucessores. Esta decisão iria excluir 25 dos 127 cardeais existentes, reduzindo os votantes do colégio dos cardeais a 102. Os jornalistas incidiram os comentários a esta decisão de Paulo VI na questão de se criar um maior equilíbrio das nacionalidades naquele colégio. Na realidade, 11 de 25 cardeais que perderam o direito de voto eram italianos (e 2 eram portugueses...), o que reduziria marginalmente a predominância dos cardeais daquela nacionalidade no colégio: de 38 em 127 (30%) para 27 em 102 (26,5%). A partir daí, eles podiam escrever uma daquelas histórias jornalísticas sobre a possibilidade de que o próximo pontífice fosse de uma outra nacionalidade que não a italiana, algo que não acontecia desde 1522 com o papa Adriano VI. A história agradaria aos leitores, mas nem por isso era verdade. A predominância de papas italianos no passado explicava-se mais pelo facto de a cúria romana ter sido sempre composta quase exclusivamente por italianos do que pela distribuição das nacionalidades entre os cardeais. Especulando quanto às intenções de Paulo VI, seria mais provável que a medida tivesse uma intenção de remover a geração de prelados mais velha, aquela que se mostrava mais relutante às conclusões alcançadas no Concílio Vaticano II (1962-65).
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