14 novembro 2020

O PRIMEIRO GOLPE DE ESTADO NA GUINÉ-BISSAU OU A SUA SEGUNDA DESCOLONIZAÇÃO

14 de Novembro de 1980. Dá-se um golpe de estado na Guiné-Bissau. O primeiro ministro militar João Bernardo "Nino" Vieira, (acima, à esquerda, numa fotografia colhida em 1973 na Suécia), derruba o governo civil do PAIGC (partido único, que encabeçara a luta de libertação nacional contra a administração colonial portuguesa), que era encabeçado pelo presidente Luís Cabral (à direita, semi-cortado). Tratava-se da primeira modificação substantiva no status quo que Portugal deixara na sua onda de descolonizações das cinco nações africanas em 1974-75.
Em Lisboa, a descolonização deixara marcas e a sua avaliação dividia a sociedade. Havia a direita não democrática que a considerava uma traição. A direita democrática que a criticava nos moldes em que fora feita. A esquerda democrática que a aceitava, considerando que fora a possível. E os únicos que se reclamavam seus defensores assumidos era a esquerda não democrática. E que avaliavam a perturbação daquele status quo da maneira desconfiada que se pode apreciar pelos cabeçalhos do Diário de Lisboa inclusos. Num conservadorismo bem comunista, "Nino" parecia ser alguém não lhes oferecia garantias de ortodoxia.
Os acontecimentos posteriores viriam a mostrar que a principal preocupação de "Nino" e do movimento que encabeçara, para além das causas circunstanciais de desagrado com a situação económica da Guiné, era pôr fim à artificialidade do discurso da unidade entre a Guiné e Cabo Verde. Por detrás do discurso ideológico oficial, era conhecimento comum que os guineenses antipatizavam com os cabo-verdianos, e estes abundavam entre os quadros da Guiné. Visto de uma certa maneira, este golpe de estado tornar-se-ia uma nova descolonização da Guiné-Bissau, agora contra os cabo-verdianos.
Remate-se a evocação com a constatação que, quarenta anos depois, a Guiné Bissau se apresenta como um dos exemplos mais emblemáticos de um estado falhado.

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