3 de Novembro de 1980. Na sua página 2, o jornal do costume publicava a primeira parte de uma extensa crónica que um dos seus jornalistas (Ernesto Sampaio) escrevera por ocasião de uma visita à Coreia do Norte. Os tempos ainda eram de ingenuidade e não se perguntava quem financiara a viagem e a estadia, mas o teor encomiástico e acrítico, ridículo, daquilo que aparecia escrito como propaganda básica disfarçada de crónica, respondia em espécie aos que se dispusessem a fazer essa pergunta. Basta transcrever o início do artigo: «"Orgulho do Terceiro Mundo" - chamou o falecido presidente Boumédiène à República Popular Democrática da Coreia, na Quarta Conferência Cimeira dos Países Não Alinhados, realizada em Argel (nota: em 1973), quando essa força poderosa do nosso tempo esteve em peso ao lado de Pyongyang no reconhecimento internacional da tese da reunificação pacífica e independente de toda a península coreana, exigindo a saída do exército ocupante norte-americano. Na verdade, quem agora visita o país pela primeira vez e conheça um pouco da história recente daquela martirizada nação, primeiro colonizada e oprimida largos decénios pelo imperialismo nipónico e depois literalmente arrasada pelo imperialismo ianque, não pode deixar de se sentir alanceado por um rasgo de admiração perante a imagem de uma bela terra renascida das cinzas.» E depois continua no mesmo tom. Que panegírico primário a uma ditadura ferocíssima, completamente fechada ao resto do Mundo. Que treta. Que descaramento.
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