22 novembro 2020

A OPERAÇÃO MAR VERDE (E A OPERAÇÃO COSTA DO MARFIM)

22 de Novembro de 1970. As forças armadas portuguesas estacionadas na sua colónia da Guiné (hoje Guiné-Bissau) desencadeiam a Operação Mar Verde contra o PAIGC. A operação consiste num desembarque nocturno em Conakry, a capital da República vizinha hostil da Guiné-Conakry, onde se sediava a direcção do PAIGC. Os objectivos da operação eram múltiplos, desdobrados em dois alvos: o próprio PAIGC, a captura dos seus dirigentes, a destruição dos seus meios militares estacionados na capital guineense e também a libertação dos prisioneiros portugueses ali detidos; mas também o próprio regime de Conakry e os seus meios militares, para o derrube do qual se preparara um golpe de Estado, a ser executado por um pequeno contingente (200 homens treinados) de oposicionistas guineenses. Vale a pena seguir o que se passou no vídeo de meia hora acima. A avaliação dos resultados é, ainda hoje, algo que é discutível. As lacunas das informações sobre os objectivos foram inquestionáveis. 26 prisioneiros portugueses foram libertados, os dirigentes do PAIGC e da Guiné Conakry devem ter apanhado aquele que terá sido o cagaço da vida deles, mas escaparam. Apesar do segredo que a envolveu e da censura, as consequências no plano internacional da Operação Mar Verde tornaram-na rapidamente conhecida em Portugal, quando o nosso país veio a ser condenado no Conselho de Segurança da ONU (abaixo). As três potências nossas amigas (Estados Unidos, França e Reino Unido), conjuntamente com a Espanha abstiveram-se, e a moção foi aprovada com 11 votos favoráveis, enquanto o governo português fazia figura de sonso...
Nem de propósito, por coincidência e no dia anterior, 21 de Novembro de 70, haviam sido os norte-americanos a tentar uma operação semelhante de recuperação de prisioneiros de guerra que estavam detidos perto de Hanói, no Vietname do Norte. A operação denominava-se «Costa do Marfim» (Ivory Coast) e envolvia 28 aviões e helicópteros e 56 homens das forças especiais dedicados à libertação do que se previa serem 55 prisioneiros guardados nas instalações prisionais de Sơn Tây, a 35 km a Oeste de Hanói. A operação correu muito bem... os prisioneiros é que não estavam lá. Ou seja, os serviços de informações americanos funcionaram ainda pior do que os portugueses. E contudo, ao contrário do que se discute em Portugal a respeito da Operação Mar Verde, onde há quem exigisse dela um sucesso total, quando se vai ler a entrada da Wikipedia relativa à Operação Costa do Marfim, tudo parece ter corrido muito bem, todos os participantes foram condecorados, é apenas um pormenor guardado para o fim do texto o facto das informações estarem desactualizadas e de que, por isso, a operação não resultou em nada. Mas, a ver o vídeo abaixo, tal é o entusiasmo com o acessório, que nos esquecemos do essencial. São duas formas opostas, igualmente ridículas, de analisar os acontecimentos. Resta acrescentar o óbvio: que, esta operação, realizada em pleno território norte-vietnamita, nem chegou a ser discutida no Conselho de Segurança da ONU...

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