Ontem conversava com alguém que se considerava detentor de uma certa cultura cinematográfica mas, reconhecia, algo limitada porque enfeudada ao que é produzido nos Estados Unidos. Não será só. Tem vezes em que até mesmo aquilo que é produzido pelos próprios Estados Unidos é condicionado pelas circunstâncias próprias do país. Em 1970 o filme MASH foi apresentado a concurso no festival de Cannes e ganhou. MASH é uma comédia negra que decorre num hospital de campanha norte-americano durante a Guerra da Coreia (1950-53). Por imposição dos produtores, a identificação da acção durante a Guerra da Coreia aparece logo no início do filme, não se prestasse o filme a ser confundido com uma paródia à Guerra do Vietname que estava então ainda em curso - que era, de facto, aquilo que o filme pretendia ser. Em 1970, a intervenção no Vietname ainda se apresentava aos Estados Unidos como um problema por resolver, apesar da promessa de campanha de Richard Nixon. Apesar dos indiscutíveis méritos do filme, que o haviam levado a ser um dos cinco finalistas nomeados para os Óscares desse ano, ele veio a perder na recta final para Patton, por acaso uma biografia de cunho elogioso ao general da Segunda Guerra Mundial. Mas entre os executivos da 20th Century Fox reconhecia-se que havia na história de MASH todo um potencial cómico passível de ser explorado, não fossem as circunstâncias adversas do prolongamento daquilo que estava a ser parodiado.
Dois anos e meio depois, essas circunstâncias haviam finalmente mudado. Havia-se conseguido criar na opinião pública norte-americana a impressão que a Guerra do Vietname terminara. Pelo menos, na parte que aos Estados Unidos dizia respeito isso era verdade. Assinaram-se os Acordos de Paz de Paris, o sucesso havia sido (claro!) de Henry Kissinger. Até se lhe atribuiu o Prémio Nobel da Paz em 1973. A ele e ao outro, o norte-vietnamita, que por acaso o recusou, por razões que o futuro esclareceria. Mas para o que importa nesta história, a ideia da exploração dos enredos das aventuras e desventuras dos membros de um hospital de campanha em tempo de guerra, a oportunidade parecia agora aberta para repegar a ideia com mais força num seriado televisivo homónimo que veio a ser transmitido durante 11 anos (entre 1972 a 1983). Num crescendo de popularidade, ajudado pelo facto do conflito vietnamita se tornar progressivamente cada vez mais uma memória, o último episódio da série, transmitido em Fevereiro de 1983, registou uma audiência de mais de 100 milhões de espectadores - que permaneceu record de audiências até 2010. A ideia era boa, os americanos precisavam era de tempo para se rirem dela.
Sem comentários:
Enviar um comentário