Porque já se passaram 25 anos é natural o esquecimento, mas, a propósito do desta semana no Reino Unido, lembre-se que 1991 foi o ano de todos os referendos. Houve-os para todos os gostos em terras que a eles não estariam habituados. As três repúblicas do Báltico, Estónia, Letónia e Lituânia, que faziam então parte da União Soviética, organizaram em Fevereiro e Março desse ano referendos em que se questionava a continuação desse estatuto versus a independência. A ideia fora anteciparem-se a um outro referendo, realizado na própria União Soviética em prol da sua preservação. Este último foi boicotado não apenas nas três repúblicas bálticas acima mencionadas, como também na Geórgia, na Arménia e na Moldávia. Onde se organizaram posteriormente os seus referendos que apuraram precisamente o contrário daquilo que o da União pretendia. Precipitada pela tentativa de golpe de Estado de Agosto, a dinâmica de decomposição da União Soviética parecia imparável, que veio a ser complementada por mais referendos em outras repúblicas, casos do Azerbaijão, do Uzbequistão ou da Ucrânia. A URSS desapareceria ainda antes do fim do ano.
Ora, o que eu não me recordo, nem na época, nem depois, foi ver todo este frenesim referendário ser analisado pela mesma perspectiva predominantemente económica como agora tenho visto estar a ser analisado o referendo britânico. Eu explico-me: já o império russo o fizera anteriormente, mas foi sobretudo depois o poder soviético que lhe sucedera, que promovera activamente a incorporação económica das regiões constituintes da União. Cada república da URSS tendia a especializar-se num conjunto de actividades tendo como mercado as restantes regiões. Essa grande área económica veio a alargar-se a partir de 1945 com a hegemonia exercida pelos soviéticos sobre a Europa de Leste e em países adjacentes como a Finlândia. Um dos paradoxos dessa complementaridade é que a Rússia, e ao contrário do que acontece tradicionalmente nestes casos, como região hegemónica e predominante do conjunto, não se especializara na produção de produtos sofisticados mas apenas das matérias-primas, sobretudo de origem siberiana. É assim que ainda hoje, a Ucrânia e muitos países da Europa de Leste estão forte, quando não totalmente, dependentes da energia russa. A integração económica do conjunto implicaria que a desagregação da União Soviética em 1991 iria ter um impacto profundo em metade da Europa. Como teve: veja-se o gráfico abaixo e a recessão que campeou por lá, em todos os países sem excepção, tanto do antigo espaço soviético como fora dele, durante a primeira metade da década de 1990.
Ora, o que eu não me recordo, nem na época, nem depois, foi ver todo este frenesim referendário ser analisado pela mesma perspectiva predominantemente económica como agora tenho visto estar a ser analisado o referendo britânico. Eu explico-me: já o império russo o fizera anteriormente, mas foi sobretudo depois o poder soviético que lhe sucedera, que promovera activamente a incorporação económica das regiões constituintes da União. Cada república da URSS tendia a especializar-se num conjunto de actividades tendo como mercado as restantes regiões. Essa grande área económica veio a alargar-se a partir de 1945 com a hegemonia exercida pelos soviéticos sobre a Europa de Leste e em países adjacentes como a Finlândia. Um dos paradoxos dessa complementaridade é que a Rússia, e ao contrário do que acontece tradicionalmente nestes casos, como região hegemónica e predominante do conjunto, não se especializara na produção de produtos sofisticados mas apenas das matérias-primas, sobretudo de origem siberiana. É assim que ainda hoje, a Ucrânia e muitos países da Europa de Leste estão forte, quando não totalmente, dependentes da energia russa. A integração económica do conjunto implicaria que a desagregação da União Soviética em 1991 iria ter um impacto profundo em metade da Europa. Como teve: veja-se o gráfico abaixo e a recessão que campeou por lá, em todos os países sem excepção, tanto do antigo espaço soviético como fora dele, durante a primeira metade da década de 1990.
Ora, para voltar ao tema por onde havia começado o parágrafo anterior, não me recordo de ter ouvido muitas Cassandras económicas em 1991. Havia efectivamente muitas vozes agoirentas - há-as sempre - mas sempre no quadro do problema político e estratégico. Porque de um problema político se tratava, embora com enormes repercussões económicas. Neste caso do referendo britânico o que eu tenho estado a assistir é à subversão do que é a causa e do que é a consequência, do que é primordial e do que é acessório. Os britânicos, tal como outrora os lituanos e os restantes povos soviéticos o fizeram, decidirão da sua continuação na União Europeia por variadíssimas razões. Algumas até erradas; outras insignificantes; a económica será uma delas, mas não sei aquilatar da sua importância no computo global. Sei que no caso da dissolução da União Soviética não pesou grandemente, pois o impacto negativo nas economias das republicas era antecipável e não foi determinante. Mas, por causa do que me parece um expediente argumentativo, confesso que me tenho dedicado a um exercício que me tem divertido imenso e que aqui quero compartilhar com o leitor: quando se depararem com alertas quanto à evolução económica desfavorável no caso do Reino Unido abandonar a União Europeia, perguntem-se - e normalmente é fácil adivinhar a resposta... - se aquela mesma pessoa seria capaz de apresentar o mesmo género de argumentos - os prejuízos económicos - se ele fosse para ser utilizado como argumento em prol da continuação da União Soviética...
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