01 abril 2024

O NOME DE USHIO AMAGATSU ATÉ PODE SER "FUNDAMENTAL", MAS A ACTIVIDADE DA "DANÇA CONTEMPORÂNEA JAPONESA" É QUE NÃO É FUNDAMENTAL, DE CERTEZA

Já vão longe os tempos - mais de uma década decorreu entretanto - em que eu lamentava aqui no Herdeiro de Aécio a incompetência da comunicação social portuguesa ao (não) cobrir óbitos de pessoas relevantes em actividades que seriam marginais ao interesse do grande público. Recupero exemplos das minhas queixas de outrora, casos do escritor de best-sellers Michael Crichton em 2008, do desenhador de BD Eddy Paape ou do historiador militar John Keegan em 2012. Mas, como comprova a minha atitude posterior, resignei-me ao critério vigente. Hoje, contudo e perante o disparate do artigo acima, apeteceu-me regressar ao tema, embora pegando-lhe pelo outro lado, já não uma queixa por causa das omissões (dos óbitos) praticadas, mas um comentário irónica a respeito dos critérios daqueles cuja morte foi elegida para destaque. Reconheço que, entre as minhas queixas acima e só para usar um exemplo, seremos poucos os que acompanhamos a historiografia militar e a obra de John Keegan para saber quem ele havia sido e a sua importância na sua área de especialização, mas tenho curiosidade em saber a quantos, aqueles que acompanham a «dança contemporânea japonesa», se destinará esta notícia actual do falecimento de Ushio Amagatsu. Aliás, como se pode ler no New York Times, um jornal pode não ter um critério rígido para seleccionar quem inclui nas suas páginas do obituário (por isso pedem a colaboração do leitor...). Mas aprecie-se a amostra abaixo, para avaliar o critério que tem sido adoptado pelo jornal Público para eleger quem eles destacam no seu obituário. Pode variar entre nomes das artes clássicas respeitáveis, como a escultura, a música ou a dança (...«contemporânea japonesa»), que a esmagadora maioria dos leitores não faz a mínima ideia quem foram, até a uma referência («um dos reis») entre os «actores secundários de Hollywood», que a mesma esmagadora maioria dos leitores continua a não saber quem foi, até à «supermodelo» Gisele Bündchen, que essa talvez haja mais leitores a saber quem é, mas também não foi ela que morreu, foi a mãe...

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