19 abril 2024

ELE HÁ INQUÉRITOS ONDE INSEREM QUESTÕES MUITO ESTÚPIDAS!...

Ontem o jornal Público apresentou o resultado de um estudo «realizado pelo ISCSP/CAPP», estudo esse do qual conseguiu extrair um título jornalisticamente pujante, o qual podemos apreciar acima. Em síntese, aquilo que os jornalistas preferiram destacar é que, mesmo que se tenha apurado uma «maioria (a considerar) que (a) democracia é "preferível"», se - e aqui o destaque vai para a existência de uma palavra a funcionar como conjunção subordinativa condicional - não houvesse eleições, «47% apoiariam "um líder forte"». O que se poderá deduzir é que quase metade das pessoas inquiridas não verá razões para terçar armas pela existência de uma Democracia. É uma conclusão interessante sobre a nossa sociedade, cinquenta anos depois do 25 de Abril. Mas também é notório que quem seleccionou o título se esqueceu de mencionar em título que «a maioria» que refere é «esmagadora»: «87%». Talvez esse número fosse pertinente, conjuntamente com o 47%, embora o título saísse menos apelativo... e provavelmente chamasse menos leitores.

Mas o tema que me levou a postar é outro. Relaciona-se com aqueles gráficos que os artigos deste teor normalmente publicam em ilustração, para lhes conferir uma certa densidade. Como acontece neste caso concreto, frequentemente aquilo que os gráficos mostram consta das explicações do próprio texto: portanto, os gráficos são redundantes. Mas serem redundantes não constitui problema. Serem estúpidos - como acontece com o exemplo que seleccionei acima - isso é que é um problema. O gráfico em causa apresenta três cenários que só na aparência são alternativos:
a) Ter um sistema de governo democrático
b) Ter um governo de um líder forte
c) Ter um governo de especialistas

Ter um sistema de governo democrático percebe-se em que consiste. Ter um governo de líder forte já não, porque não está explícito qual é a legitimidade do líder forte. É que, se não tiver sido a legitimidade democrática que o tornou líder, a palavra forte naquele contexto será apenas um eufemismo para evitar empregar o adjectivo autocrático: líder autocrático. Mas, ainda assim, e apesar da manipulação do vocabulário, reconheço que um sistema de governo em ditadura (b) é uma alternativa a um sistema de governo democrático (a).

O que eu não percebo é de onde aparece a hipótese (c): que raio é ter um governo de especialistas em alternativa às duas opções anteriores? Tudo dependerá da legitimidade democrática de quem tiver formado esse tal governo de especialistas. Se a tiver - legitimidade democrática - então aí, tudo bem, alínea a); se não tiver, tudo mal, alínea b). E, já agora, para além de não ser uma terceira alternativa e voltando mais uma vez às questões do vocabulário: em que é que consiste um governo de especialistas? Querem ver que os investigadores do «ISCSP/CAPP» são daqueles otários que estarão convencidos que o âmbito das intervenções de um governo se pode circunscrever apenas aos aspectos técnicos das respectivas pastas? Se fizerem apenas isso, os ministros não estão a desempenhar o papel de ministros... Os ministros fazem opções políticas.

Por muito estúpidas que sejam algumas das questões colocadas, como é costume, segue-se a publicação da ficha técnica do inquérito...

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