(Republicação a propósito do cinquentenário)
Já aqui escrevera, no 25 de Abril do ano passado, sobre cravos colocados nas armas erradas. Regresso ao tema, observando a forma displicentemente ligeira como, por vezes, o tema dos cravos do 25 de Abril é tratado. A silhueta da arma da figura acima, por exemplo, é facilmente reconhecível como uma AK-47, uma arma de origem soviética. Para além do erro factual (Portugal sempre pertenceu à NATO, seria impossível que os seus soldados usassem armas daquela proveniência em 1974), e com a ignorância mais do que provável dos autores da montagem, aquela arma pode prestar-se a interpretações maliciosas (mas quiçá pertinentes) sobre a influência que o marxismo-leninismo teve no desvio dos ideais originais do 25 de Abril, só posteriormente corrigidas a 25 de Novembro de 1975.
Aliás, desconhecido de muitos, a começar pelos portugueses, a associação entre cravos e armas individuais de infantaria, especialmente as de origem soviética, é um fenómeno bem mais antigo do que 1974. Abaixo podemos ver um cartaz polaco dos anos próximos do fim da Segunda Guerra Mundial, da época em que vigorava uma amizade fraterna entre russos e polacos. Do ponto de mira da arma (uma PPSh de origem soviética) vêm-se sair dois cravos, um vermelho outro branco, representativos das cores nacionais da Polónia. Apesar de se tratar de uma estética bem conseguida, não consta que os cravos tivessem adquirido grande significado simbólico entre os polacos... Deve ter sido porque lá na Polónia daqueles anos os cravos da Liberdade não se davam muito bem por causa do clima…