Aqui há cinco anos eram os órgãos da comunicação social tradicional (e não as redes sociais...) que se mostravam ao rubro perante o fenómeno do lançamento de um denominado Movimento 5.7 que se destinaria a «agregar as direitas», para acabar com «o longo Inverno socialista». Miguel Morgado era o nome que - como a pasta medicinal Couto - andava na boca de toda a gente e ainda hoje impressiona a onda publicitária que o acompanhou por estes dias de há cinco anos, mesmo num jornal que não seria particularmente simpático para com as suas cores, como é o caso do Público. Visto a esta distância, no mosaico acima está lá a coreografia toda. Acompanhando as notícias do mosaico no sentido da leitura - todas elas foram publicadas no Público! (imagine-se em locais menos hostis...) - começamos pela sessão de apresentação do próprio (Morgado), seguida de uma outra complementar para dizer ao que vinha: acabar com o «longo inverno socialista» (António Costa e a periclitante geringonça estavam no poder desde Novembro de 2015 e ia haver eleições dali a seis meses). João Miguel Tavares é o homem de serviço à direita para abraçar entusiasmadamente todos os projectos oriundos daquela área política e este não foi excepção: a fórmula desta vez foi «o abalo na política da cristaleira». Depois concedeu-se a oportunidade à estrela em ascensão para apresentar os seus pergaminhos numa entrevista em que ele zurziu como pôde no primeiro-ministro: «António Costa tem a posição típica do radical extremista». Até arrepia ouvir! Segue-se o processo de nomear pessoas conhecidas que se mostram ansiosas por fazer parte do Movimento 5.7, processo designado cinicamente por name dropping; aqui houve um certo excesso, quem ler o mosaico central fica-se quase com a sensação que o CDS estava ansioso por se mudar todo com armas e bagagens para o movimento do Morgado... Depois foi a fase em que foi preciso que o movimento organizasse umas coisas para dar uma prova de vida: a um mês das eleições europeias, propunha-se debater «a Europa e o Futuro», mas «sem partidos». Está-se mesmo a ver qual foi o sucesso da iniciativa... E depois foi só preciso dar tempo ao tempo para que os verdadeiros objectivos da iniciativa viessem à superfície, à procura do apadrinhamento de Passos Coelho à iniciativa de Morgado disputar a liderança do PSD. Omisso do mosaico estão os resultados das eleições de Outubro de 2019, que seriam o detonador da disputa pela liderança do partido. Mas as duas últimas notícias mostram que os acontecimentos não se propiciaram: o Movimento 5.7 acabou a definir «linhas para relançar a cultura de direita» - cultura que devia andar desalinhada e ninguém dera por nada até aí - e «Miguel Morgado desistia de se candidatar à liderança do PSD». Afinal era isso! E nós a pensar que era tudo cultura.
Era para publicar esta evocação ontem, que foi Dia das Mentiras, mas publico-a hoje, em que o governo de Luís Montenegro toma posse, para recordar Miguel Morgado que, apesar de ter sido levado ao colo pela comunicação social (se isto que vêem acima foi o Público, imaginem o que não lhe terá feito o Observador!...), apesar da sua excelência, é mais um daqueles excelentes quadros do PSD (já aqui me referi a Poiares Maduro) que não faz parte do excelente elenco que hoje toma posse. Ele, que nos seus dias de fama, até se propusera - como abaixo se lê - «reconstruir a direita»! Não a temos agora mais reconstruida que nunca?!...
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