(Republicação a pretexto do dia do cinquentenário da estreia em Portugal de «O Último Tango em Paris»)
Em termos cinematográficos o 25 de Abril ficou também para sempre associado a O Último Tango em Paris. Estreado a 30 de Abril de 1974 no Monumental (acima), uma das primeiras constatações concretas pelos portugueses do que era o usufruto da Liberdade: assistir a um desses filmes bem condimentados (mas intelectuais) sem quaisquer cortes da censura, como acontec(er)ia por essa Europa fora… Não era bem verdade, mas isso então não interessava nada¹. Tratava-se de toda uma nova relação do espectador português com a arte…
Que se exprimiu de imediato, na forma oportunista que caracterizava o teatro de revista, com a aparição de uma peça intitulada O Último Fado em Lisboa, uma enorme salada russa, incluindo danças e cantares dessa mesma proveniência, a que se juntava umas danças do ventre e uns nus artísticos de umas artistas que já se haviam deixado ver em melhores dias. Não deixa de ser irónico que vanguardistas concorrentes como César de Oliveira, Filipe La Féria (esse!), Graça Lobo e Mário Viegas tenham boicotado revolucionariamente a peça...
Nesses tempos heróicos, em paralelo com referências como O Couraçado Potenkin ou então O Destacamento da Guarda Vermelha, a educação do típico espectador português em transição para o socialismo também se fazia no segmento do Último Tango: filmes europeus com muita conversa intelectual mas acompanhada de coboiada. O apogeu desses filmes terá sido o estreado a 2 de Janeiro de 1975 no Império (acima) com um título intraduzível (La maman et la putain²) e um apelo descarado ao voyeurismo, veja-se o cartaz abaixo.
Infelizmente, e apesar da ousadia do título, o filme revelava-se uma pastilha comprida e chata com 3 horas e 37 minutos de duração, conversa demais e muito pouca acção para o que era sugerido como se antecipa abaixo. Apesar do impacto da altura, actualmente o filme estará praticamente esquecido e os gostos dos espectadores portugueses começaram a clarificar-se, separando-se aqueles que preferiam os enredos dirigidos então por Ingmar Bergman dos que preferiam os enredos protagonizados por Linda Lovelace…
¹ O filme não fora estreado em Espanha, em Itália o realizador (Bernardo Bertolucci) fora levado a Tribunal, etc. ² Para os menos dotados para línguas a tradução para português é: a mamã e a puta.
Infelizmente, e apesar da ousadia do título, o filme revelava-se uma pastilha comprida e chata com 3 horas e 37 minutos de duração, conversa demais e muito pouca acção para o que era sugerido como se antecipa abaixo. Apesar do impacto da altura, actualmente o filme estará praticamente esquecido e os gostos dos espectadores portugueses começaram a clarificar-se, separando-se aqueles que preferiam os enredos dirigidos então por Ingmar Bergman dos que preferiam os enredos protagonizados por Linda Lovelace…
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