02 novembro 2023

JOVENS MÉDICOS SEM EMPREGO PARA ÁFRICA, RAPIDAMENTE E EM FORÇA

Não deixa de ser de uma ironia tremenda recordar esta notícia de há precisamente quarenta anos em que o ministro da Saúde de então, o (também) socialista Maldonado Gonelha, incentivava os jovens médicos, aos quais não poderia garantir «emprego no Estado», que emigrassem «para África, rapidamente e em força.» Um primeiro comentário que me surge, sarcástico, foi como declarações de teor absolutamente idêntico vieram a ser acolhidas, daí por trinta anos, com um enorme ultraje político-mediático. O segundo comentário será, obviamente, comparar esta aparente abundância de médicos com a carência actual desses mesmos profissionais, apesar de eles não terem ido para África rapidamente e em força. Ou eles todos desapareceram algures por aí, ou, como já aqui expliquei, o ritmo de substituição e formação de novos quadros foi reduzido de seguida de uma forma tão absurda, que se veio a repercutir a longo prazo numa falta de quadros médicos em Portugal. Não por falta de capacidade para os formar, mas apenas porque os responsáveis políticos foram estúpidos e cederam aos interesses da corporação consolidados na Ordem dos Médicos. O actual titular da pasta da Saúde, Manuel Pizarro, outro apparatchik socialista na mesma linha de Gonelha, é o último de uma lista de responsáveis, em que, coincidentemente, um e outro se contam entre os piores. O terceiro comentário que esta invocação me sugere é que, assim como há quarenta anos não foi preciso que os jovens médicos tivessem ido para África, actualmente também não teria sido preciso as autoridades governamentais esticarem a corda negocial por 16 meses, para se verem empurrados para os excessos actuais, quando o sistema já assenta em boas vontades. Quando Pizarro já não tem margem de manobra para mandar bojardas como estas do Gonelha. Há que reconhecer que estes problemas, quando são discutidos politico-mediaticamente, quase só se ouvem asneiras, para mais quando nem se prestam as explicações mais pertinentes e elementares: por exemplo, porque é que foi preciso um ano para serem publicados os estatutos de uma direcção-executiva? Não me venham com o spin de deflectir a pergunta dizendo que já foi aprovado. A pergunta é outra: quem foram os merdas responsáveis por um atraso inaceitável?

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