Suponho que pouca gente queira ouvir falar do assunto, mas, numa época em que somos bombardeados com as mensagens demagógicas e populistas protagonizadas pelo líder da extrema-direita, André Ventura, creio que vale muito a pena recordar, a pretexto da data de hoje, como eram as mensagens demagógicas e populistas do outro extremo do espectro em Novembro de 1975. Datado de quatro dias antes do golpe e contragolpe de Estado de há 48 anos, vale a pena ler com muita atenção o que propunham os 18 «oficiais revolucionários» que elaboraram e assinaram este «manifesto» destinado «aos soldados e marinheiros, à classe operária e ao povo trabalhador» que incluo aqui em baixo. Como então se rematava no manifesto: «Nós estamos com o PODER POPULAR ARMADO, COM SOLDADOS, COM OS MILITANTES, até à vitória, até à tomada do poder». Ora se há quem hoje defenda que aquilo era somente retórica, então também haveria que aceitar a opinião das almas benfazejas que defendem a inocuidade das bojardas que agora ouvimos proferidas a André Ventura. Discordo. Tanto se devem cobrar as proclamações de Ventura como, naquela conjuntura, a destes «oficiais revolucionários». Acho que não se deve ter tolerância para qualquer dos totalitarismos extremistas. Quando há eleições e essas eleições são justas, os extremistas raramente alcançaram os 50%+1 dos votos que lhes permitem derrubar o regime que os leva ao poder: foi assim com Adolf Hitler na Alemanha (44% para os nazis), na Checoslováquia do após guerra (38% para os comunistas) ou nos Estados Unidos em 2016 (46% para Donald Trump). Aos extremistas não lhes interessa a base eleitoral de que dispõem e o que é importante para eles é o comportamento dos aliados de circunstância que, por acção ou demissão, lhes permitem a tomada do poder. Pois bem, o que aconteceu há 48 anos é que alguns oficiais - talvez nem todos os signatários abaixo, mas adicionando certamente outros que não assinaram - promoveram uma iniciativa militar, até à vitória, até à tomada do poder. E foram derrotados por aqueles que não queriam ser seus aliados de circunstância. E, em minha opinião, ainda bem. Passados todos estes anos, é irritante ver alguns dos signatários abaixo a tentarem minimizar o que aconteceu, como se a sua iniciativa tivesse sido uma grande brincadeira que correu mal. Mas, confesso que ainda mais irritante, é a atitude de um outro grupo, que se permite agora pairar majestaticamente por cima dos acontecimentos daqueles dias, quando na época ficaram sabiamente em cima do muro, à espera de ver como é que as coisas evoluíam. O nosso agradecimento deve-se cingir àqueles que se sabe que fizeram alguma coisa para os conter, aos extremistas totalitários, naquela data.
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