Temos escândalo! E é um grande escândalo! E está a ser-nos apresentado envolvendo António Costa por todos os lados, desde o seu chefe de gabinete até ao seu amigo pessoal Diogo Lacerda Machado, passando pelo ministro João Galamba, que António Costa não quis demitir no último escândalo, apesar da insistência de Marcelo Rebelo de Sousa. As implicações daquilo que está a ser revelado são amplas, a continuidade do governo poderá ser questionada, para mais quando a solidez da notícia é consolidada por referências à antiguidade da investigação sobre os negócios escusos da exploração do lítio e da produção de hidrogénio verde: referem-se escutas de Janeiro de 2021, a investigação terá por isso mais de dois anos e meio. O problema é que vivemos em Portugal...
E vivendo em Portugal e tendo memória, o episódio de hoje, na sua indiscutível gravidade e nas suas inevitáveis consequências para a actualidade política, tem um travo reconhecível de reencenação de um episódio déjà vu. Viajemos então nove anos no passado, até 21 de Novembro de 2014, até à prisão bombástica no aeroporto de Lisboa do ex-primeiro-ministro José Sócrates. Viajemos não apenas até esse dia, mas também aos dias seguintes onde, como se vê abaixo, lá aparecia também um longo texto explicativo que a eclosão daquele escândalo também tivera precedentes: «uma carreira cheia de suspeitas». Como os negócios cujos contornos que hoje são revelados, também a carreira de Sócrates se apresentava como um caso muito sólido para o ministério público (MP). E, como é evidente, mas raramente relembrado, José Sócrates continua por ir a julgamento nove anos depois da exibição de todas aquelas evidências que se lêem mais abaixo!
Por isso, recomendo que apreciemos as revelações que se sucederão com fleuma. Não por simpatia para com os suspeitos já identificados neste escândalo. Mas por uma profunda desconfiança para com a competência de quem produz as acusações - que é óptimo a injectá-las na comunicação social, mas que pode ser de uma incompetência atroz a efectivá-las posteriormente nos tribunais.
Desfecho: António Costa demitiu-se, José Sócrates deve estar felicíssimo da desforra e Marcelo Rebelo de Sousa aliviadíssimo - ninguém já se lembra dos episódios da Palestina e das gémeas. E contudo, no plano em que acima me pronuncio, aceito apostas sobre quanto tempo demorará até este caso chegar a tribunal. Antes de Novembro de 2027? Ou arrastar-se-á até Novembro de 2032...
Sem comentários:
Enviar um comentário