05 novembro 2023

MARCELO A «ASSOBIAR AO COCHICHO E A FINGIR QUE NÃO TEM NADA A VER COM ISTO»


Foi o próprio Marcelo Rebelo de Sousa que, enquanto comentador, recuperou há uns anos a expressão «assobiar ao cochicho e fingir que não tem nada a ver com isto»(aquilo). Agora, eleito presidente-comentador, estamos a vê-lo a recuperar o expediente que criticou a outros, a propósito do episódio das gémeas brasileiras que vieram receber um dispendioso tratamento médico a Portugal. No artigo, vêmo-lo a negar interferência no caso, quando nunca tomámos Marcelo por um ingénuo que acredite que as cunhas precisem da sua interferência para funcionarem. É óbvio que bastou ter aparecido o nome do seu filho e da sua nora no acontecimento para que as coisas tomassem um certo rumo. E, para um presidente que adora dizer imensas coisas a respeito de imensos assuntos (alguns deles nem têm a ver directamente consigo!), é sobre este assunto concreto que gostaríamos de o ouvir em concreto, mas não sobre a sua interferência e hipotéticas ameaças de tribunal para quem o acuse. O desejável é antes vê-lo a apelar ao completo esclarecimento sobre aquilo que de bizarro terá sucedido no episódio, condenando eventualmente aqueles que recorreram implicitamente ao seu nome e ao seu estatuto para o conseguir. É que Marcelo é presidente de um povo que reconhece intuitivamente os episódios de esperteza saloia...

Por outro lado, sobre os usos e abusos ostensivos e implícitos de familiares de poderosos, lembro-me, já há mais de cinquenta anos, de um Mercedes-Benz do Estado, (mal) estacionado em plena baixa lisboeta à vista de todos os passantes, impunemente, porque dona Gertrudes Thomaz e a sua filha Natália andavam por ali às compras. É óbvio que dava muito mau aspecto, era um abuso de estatuto, um desprestígio para a presidência da República, e contudo, para entrar no jogo da desconversa actual de Marcelo (o tal «assobio ao cochicho»), eu creio que o então presidente Américo Thomaz não tinha, não precisava de ter, qualquer «interferência» no facto da polícia ser assim tão descaradamente permissiva quanto ao estacionamento do Mercedes das madames...

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