Ontem, logo imediatamente a seguir ao discurso do Marcelo, Luís Montenegro apareceu nos ecrãs a atracar-se à solução que acabara de ser anunciada pelo presidente da República. Lá terão considerado que era melhor serem os primeiros a fazê-lo. Mas foi impressionante constatar como a mais do que previsível pergunta a respeito da aprovação prévia do Orçamento de Estado para 2024 antes da dissolução. É nesses detalhes que se percebe que, mais do que Luís Montenegro ser uma pessoa comprovadamente medíocre, também a equipa que o suporta por detrás é dessa mesma qualidade. A resposta de Montenegro à questão lá saiu defensiva e embrulhada quando poderia ter sido ocasião de marcar pontos. E marcaria pontos se ele lembrasse os jornalistas que a não aprovação do Orçamento para 2024 implicaria a aplicação em regime de duodécimos do Orçamento de 2023. Orçamento esse que, aproveitaria para relembrar, o PSD também havia votado contra (acima, do lado esquerdo). Portanto, a questão que o jornalista pusera reduzir-se-ia a uma questão de opções entre dois orçamentos a que o PSD se opusera. Dois males, e apresentado assim, a questão seria a de optar por um mal menor, que seria naturalmente o orçamento aprovado mais recentemente. Seria o género de resposta que, mais do que honesta e, quiçá, inesperada, mostraria pragmatismo, sentido de Estado, tudo aquilo que eles andam à procura de exibir. Mas não. Os spin-doctors da equipa de Luís Montenegro são uma lástima.
Em contraste, os seus homólogos que trabalham para António Costa mostram-se bem mais eficazes: o parágrafo do comunicado da procuradoria geral da República que se refere a António Costa tornou-se o centro da discussão política a partir do momento em que o visado lhe atribuiu a responsabilidade directa pela sua demissão. E estão a ir muitos, demasiados atrás dessa linha de raciocínio. Quando, mesmo sem aquele parágrafo, só o facto da implicação naquela escala do chefe de Gabinete do primeiro-ministro e de outras figuras próximas a si, teria que ter como consequência - nos países civilizados - a demissão do próprio primeiro-ministro. Foi assim mesmo que aconteceu, por exemplo, em Abril de 1974, quando se descobriu que o secretário pessoal do chanceler oeste-alemão Willy Brandt era um espião comunista. E, por muito que fosse um absurdo total conceber que o próprio Willy Brandt fosse um comunista encapotado, o veredicto político era incontornável e o desfecho inevitável. Mas atenção ao desfecho: Günter Guillaume, o espião, foi julgado e condenado, dali por 20 meses, a 13 anos de prisão. Quando criticamos estas habilidade argumentativas dos spin-doctors, também convém não nos esquecermos de exigir que o Ministério Público apresente resultados em espaços de tempo compatíveis com os países civilizados.
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