Eu não estranharia que João Galamba acabasse a cena da sua demissão a exigir-nos desculpas a todos, como o faz acima o tenente Steven Hauk no filme Good Morning, Vietnam. É o que se depreende daquilo que ele escreveu na sua carta (abaixo). Duas figuras igualmente patéticas, a diferença substancial será que Hauk tinha a ilusão de ter piada e não conseguia compreender que a não tinha de todo. Em contraste, Galamba não compreende a imagem de irresponsabilidade que se formou de si e, tem tanto a pretensão de ser levado a sério, que acaba por ter involuntariamente piada.
“O trabalho feito, os seus bons resultados e o desempenho das minhas funções com absoluto respeito pela lei e com total dedicação ao país e aos portugueses são, em meu entendimento, as condições políticas necessárias para o desempenho de funções governativas." (...) "Enquanto secretário de Estado da Energia, empenhei-me, em total consonância com as prioridades da União Europeia e do Programa do Governo, na transição energética que sempre considerei, e publicamente defendi, um desafio que abria ao país oportunidades únicas de desenvolvimento tecnológico, industrial e de maior independência energética”. (Empenhei-me) “em assegurar as condições para que as matérias-primas críticas como é o caso do lítio e a fixação no país de toda a cadeia de valor das baterias, incluindo a refinaria de lítio, pudessem trazer novos investimentos, tecnologia e empregos altamente qualificados”, (com o objectivo de desenvolver as) “vantagens competitivas de que o país dispõe ao nível da digitalização, descarbonização e industrialização dos seus portos comerciais, em particular na cadeia de valor do eólico offshore, e também ao nível da amarração e interligação de cabos submarinos”, (fazendo de Portugal) “um hub competitivo de conectividade, armazenamento e processamento de dados” (...) “Quero transmitir que este pedido de demissão não constitui uma assunção de responsabilidades quanto ao que pertence à esfera da Justiça e com esta não se confunde”, (considerando-se) “totalmente disponível para esclarecer qualquer dúvida que haja a respeito do desempenho” (das suas funções). “A acção de um membro do governo impõe a ponderação de todos os interesses públicos presentes e a obrigação de desenvolver todos os esforços para os compatibilizar ou maximizar a sua realização quando não seja possível alcançar a realização plena de todos eles, e sempre com total obediência à lei”. (...) “Saliento e destaco que me refiro a todos os projectos de investimento inseridos na minha área de actuação enquanto governante porquanto essa corresponde à governação legítima num Estado democrático, trabalhando a bem de todos os projectos e respondendo à necessidade de a todos eles se assegurarem condições de concretização. Repito: de a todos eles se assegurarem condições de concretização”. (...) “Por fim, reitero o agradecimento à minha família, que me tem acompanhado e que tem sido a mais prejudicada nos últimos tempos, o que não posso ignorar e cuja protecção, como referido, me faz apresentar, sem mais, a presente demissão”.
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