A incompetência que grassa entre os assessores do ministério da Saúde é tal, que o próprio ministro nem se chega a aproveitar devidamente dos seus argumentos na negociação que eles travam contra os sindicatos dos médicos. O argumento que acima vemos o ministro brandir resulta da adição do aumento percentual resultante da redução das horas de trabalho semanais dos médicos (de 40 para 35), o que representaria um aumento de 14,2% (o detalhe está explicado no corpo do artigo), com o verdadeiro aumento de ordenados que foi proposto na última reunião pelo governo, um aumento de 8,5%. Os tais 22,7% a que Manuel Pizarro acima se refere são assim o resultado de: 14,2 + 8,5 = 22,7%
Importa esclarecer que os assessores do ministério põem o ministro a argumentar somando duas naturezas diferentes do conceito aumento salarial. Pela primeira (a redução do tempo de trabalho) os médicos não passam a levar mais dinheiro para casa ao fim do mês - trata-se apenas de um aumento técnico, porque os médicos passam a ganhar mais por hora trabalhada. A natureza do segundo aumento, o de 8,5%, é que corresponde àquilo que costumamos entender por aumento: Mais dinheiro ao fim do mês. Para além dessa manipulação, e pior do que isso em termos técnicos e políticos, e virando-se contra a competência dos próprios assessores de Pizarro, o efeito conjugado dos dois aumentos devia ter sido calculado multiplicando-os, ou seja, 1,14285 x 1,085 = 1,24. Constatação: não sabem fazer contas porque nem percebem do que estão a falar. Se o soubessem, teriam posto o ministro a dizer o número real do aumento conjugado dos dois aumentos, que seria ainda mais simpático para a sua causa: 24%. (e não os 22,7%)
E é assim. De uma equipa onde parece não existir ninguém que compreenda o simples cálculo de números índices, esperar que haja lá pessoas com capacidade de implementar uma reforma exequível para um sistema complexo como o SNS, isso é que me parece candura demais...
Sem comentários:
Enviar um comentário