Em paralelo com os festivais dos comentadores que agora se exercitam, permitam-me dizer que me impressionou o arranque (por sinal atrasado 8 minutos, como de costume...) do discurso de António Costa, ao pedir logo desculpas a propósito do tópico que lhe será mais prejudicial: a descoberta dos envelopes com quantias avultadas de dinheiro encontrados no gabinete do seu chefe de gabinete, Vítor Escária. Falando em analogias, a notícia da descoberta dos envelopes terá sido o equivalente ao momento João Perna no processo de José Sócrates. (Para quem já esteja esquecido, João Perna¹ era o motorista que levava as elevadas quantias de dinheiro a Sócrates) Num caso e noutro, o aparecimento de dinheiro vivo em quantidade liquidou quaisquer dúvidas na opinião pública que o assunto era sórdido. Ninguém normal lida assim com tanto numerário. A António Costa só lhe restava descartar-se do seu chefe de gabinete no início da sua intervenção, assim como deixou para o fim da sua intervenção, a pretexto de uma pergunta final de um jornalista que duvido que não tenha sido preparada, a sua demarcação do seu amigo Diogo Lacerda Machado. O soundbite pareceu-me apropriado demais para não ter sido preparado de antemão: «a realidade é que um primeiro-ministro não tem amigos».
¹ É oportuno recordar que João Perna acabou por não vir a ser julgado por esses transportes, por causa de «um erro processual» «cometido pelo Ministério Público». O MP é óptimo a plantar pistas convincentes na comunicação social, o problema é que nos tribunais aquele mesmo MP mostra-se uma merda de incompetência.
Sem comentários:
Enviar um comentário