11 outubro 2022

PÚBLICO: O PLÁGIO E A HIPOCRISIA

Há menos de uma semana (5 de Outubro), eu escrevi um poste aqui neste blogue, dando conta (sic) de «um caso grave de plágio no jornal» Público. Intitulado «Cocó, Ranheta e Facada, os três da vida airada», nele eu dava conta de como me ficara a impressão desagradável que, não fora os esforços porfiados da leitora que denunciara o plágio, o assunto teria tendido para ser abafado por uma concertação de esforços do próprio plagiador, do director do jornal e do seu provedor do leitor, junto de quem fora depositada originalmente a queixa. Enfim, uma cena deplorável, que deixava dos três uma imagem que nem apetece qualificar. Ontem, a direcção editorial (assim mesmo, com letra pequena, porque uma conduta hipócrita não merece outra coisa...), a direcção editorial daquele jornal publicou a nota que se pode parcialmente ler acima. Afinal, não se tratava do primeiro caso em que o jornalista se vira envolvido em casos de contornos semelhantes: plágios. E é assim que temos direito a uma espécie de fénix renascida que, perante novas evidências, se mostra muito mais severa para com o prevaricador. O problema deste jornalismo moderno é que ele conta com a colaboração dinâmica dos seus leitores e, no meio do muito lixo que costuma atravancar as caixas de comentários, há vezes em que aparecem por lá preciosidades, como a nota do leitor miguel_ps, que num registo céptico, dá conta que o hábito do jornalista em causa há muito seria conhecido no jornal, remetendo-nos para uma crónica de um outro provedor do leitor (Joaquim Vieira) que, em Janeiro de 2009, verberava aquele mesmo jornalista, por um caso de... plágio. Manuel Carvalho, o actual director do Público, era então um dos subdirectores de José Manuel Fernandes. Portanto, com esta prova documental e adivinhando o que serão os bastidores de um jornal, não vale a pena nem Manuel Carvalho, nem os restantes membros da direcção editorial, armarem-se ao pingarelho da ingenuidade com esta nota. Os expedientes do jornalista Vítor Belanciano eram conhecidos há mais de uma década e, para mim, o único aspecto saudável desta visita ao passado é comprovar, pelo texto abaixo, como se pode desempenhar a função de provedor do leitor sem se ser uma alforreca, sem coluna vertebral. Para além da sanção acima decidida quanto ao Cocó, que o Ranheta e o Facada assumam por sua vez as suas responsabilidades como muito bem entenderem... Não fiquem é com a sensação que me deram a volta e que o jornal Público está a assumir uma atitude muito responsável face às denúncias de plágio. O que acaba por ser irónico em tudo isto é que, descontada a diferença significativa da natureza dos actos cometidos, o encobrimento que aqui assistimos é uma reprodução fiel daquilo que os próprios jornalistas têm denunciado e enchido cabeçalhos sobre o comportamento inadmissível da hierarquia da igreja católica e o encobrimento dos padres pedófilos. Há anos que as denúncias aconteciam mas não acontecia nada porque os padres eram mudados de paróquia, onde não se sabia de nada do que acontecera. Aqui é parecido de inverosimilhante: sugerem-nos - os da direcção editorial - que de 2009 até 2022, Vítor Belanciano não terá plagiado outras vezes ou que eles não sabiam de nada.

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