No passado Domingo, 9 de Outubro, houve eleições presidenciais na Áustria. O presidente Alexander van der Bellen foi reeleito logo à primeira volta. O candidato apresentado pelo FPÖ, formação normalmente conotada com a extrema direita, que havia estado quase prestes a conquistar a presidência em 2016, recebeu uns desapontadores 717 mil votos (17,7%). A surpresa do acto eleitoral foi o senhor da fotografia. Chama-se Dominik Wlazny, tem 35 anos (a idade mínima para concorrer às eleições presidenciais austríacas) e é um genuíno artista de variedades. É o líder - com o nome artístico de Marco Pogo - de uma banda de punk rock denominada Turbobier. Até aqui este episódio assemelhar-se-á às candidaturas presidenciais de Manuel João Vieira e os Ena Pá 2000, mas depois a coisa começa a sofisticar-se. Porque o candidato Wlazny (que é licenciado em medicina) acumula a liderança da banda rock com a dum partido satírico denominado Partido da Cerveja (Bierpartei). Este último havia recolhido uns míseros 5 mil votos nas últimas eleições legislativas austríacas de 2019, mas o candidato conseguiu reunir 6 mil assinaturas para se apresentar nestas eleições presidenciais de 2022. Onde - e, mais uma vez, a comparação com os casos portugueses fazem sentido - ao estilo Marcelo 2021, a reeleição do presidente van der Bellen estava praticamente garantida à partida e à primeira volta. E é assim que, concluído o escrutínio, aparece em terceiro lugar o candidato Dominik Wlazny do Partido da Cerveja, que recebeu 337 mil votos (8,3%)! Tratasse-se de uma formação de extrema direita e o desfecho eleitoral seria oportunidade para que se ouvissem pela enésima vez as vozes ultrajadas com mais esta ascensão da extrema direita... Mas desta vez não se deu mediaticamente por nada, porque neste caso se tratará da ascensão da extrema cerveja, uma ocasião em que se percebe que, mais do que a força da extrema direita, o que pareceu evidente foi a fraqueza do sistema democrático quando insiste em convocar actos eleitorais em que o eleitorado compreende bem demais que não há nada em disputa. E a reacção, quando não é de alheamento e abstenção, manifesta-se em votações significativas nestas formações políticas satíricas. No caso português: que é que os dois grandes partidos estão à espera para que desapareça aquela eleição intercalar, a brincar, do presidente português?...
Sem comentários:
Enviar um comentário