9 de Outubro de 1982. O que mais nos choca nesta notícia é mesmo a forma como é noticiada: casualmente. Trata-se de um país de língua oficial portuguesa, trata-se da aplicação da pena capital por «pertença e colaboração com organizações clandestinas, rebelião armada e terrorismo». Onde estariam as notícias com as reacções muito críticas daquelas organizações de direitos humanos que costumam acompanhar estes excessos? Não havia. Mais. Havia que não esquecer que, até 1974, haviam sido as autoridades coloniais portuguesas em Moçambique que haviam desempenhado aquele mesmo papel repressor das «organizações clandestinas», da «rebelião armada» e do «terrorismo». E haviam-no feito, apesar das críticas, sem recorrer oficialmente a estes métodos extremos. Se o tivessem feito, a história de Portugal e de Moçambique teria sido muito diferente, já que muitos quadros da Frelimo capturados teriam sido então executados para exemplo, durante a fase da guerrilha. A especulação é curiosa porque, há coisa de um mês, o primeiro-ministro português pediu desculpa a Moçambique por um massacre cometido pelo exército português há 50 anos. Um gesto que, se bem compreendi, acabou por ter um acolhimento misto em qualquer dos dois países. E que me veio levantar a questão se, para além deste sarar das feridas do período colonial, Moçambique não precisará também e sobretudo, de fazer o mesmo ao período de chumbo dos tempos do monopólio do poder da Frelimo?
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