03 outubro 2022

QUANDO «A MULHER DE CÉSAR» NEM PERCEBE AS EXIGÊNCIAS DE SE SER «MULHER DE CÉSAR»

A ministra Ana Abrunhosa publica hoje uma carta exculpatória a respeito do escândalo que a envolveu e ao marido, a respeito do «facto de uma empresa onde o (meu) marido é sócio ter tido apoio de fundos europeus». Este é um daqueles exemplos canónicos de que, a montante de tudo aquilo que aparece escrito como justificação, pesa uma incompreensão de base: é que a ministra mostra não perceber sequer em que consiste o dilema de se ser «a mulher de César». Um cargo político de projecção acarreta consigo um conjunto de restrições que abrange não apenas o próprio como também aqueles que lhe estão mais próximos. Por isso, é desejável que a sua aceitação (de um alto cargo público) deva ser um assunto de família. Contudo, estas novas figuras da ribalta da política querem aceitar os seus altos cargos com a ilusão de que essas regras não são para si. Mas também só se lembram disso quando se fala do lado do pão que não tem a manteiga: os deveres éticos. Como por ali, no texto, se pretende concluir: (o perigo de) «...quando queremos que César deixe de ser César e se torne um cidadão de segunda». Ora isto são lamúrias despropositadas. Sobretudo, trata-se de uma tentativa - coxa - de inverter o ónus do problema: a ideia é tornar palatável os privilégios injustamente auferidos pelos cidadãos de primeira - os ministros e todos aqueles que dispõem de acessos a informação privilegiada oriunda dos gabinetes do Estado. 

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