16 abril 2022

O «SÍNDROME DE RAPALLO»

Depois de o termos evocado por ocasião do seu centenário no poste anterior, vale a pena desenvolver mais um pouco o dito tratado de Rapallo, nomeadamente aquilo que em diplomacia e relações internacionais se veio a denominar por «síndrome de Rapallo» - as reacções hiper-cautelosas de todo o resto dos países europeus quando a Alemanha e a Rússia procedem a reaproximações demasiado exuberantes. Depois de Rapallo, a história dessas reaproximações tem dado desfechos não conclusivos: houve o pacto entre Hitler e Staline em 1939, que precipitou a Segunda Guerra Mundial, mas também houve a Östpolitik de Willy Brandt a partir de 1970, que muito contribuiu para distender as tensões entre blocos na Europa provocadas pela invasão russa da Checoslováquia em 1968. Mas a fotografia acima é do último episódio em que se tornou a vivenciar (como agora se diz...) esse síndrome de Rapallo, quando o chanceler alemão Gerhard Schröder (1998-2005) coexistiu no poder com o presidente russo Vladimir Putin e pareciam dar-se muito bem. Tão bem que, quando Schröder abandonou o cargo, foi trabalhar para empresas ligadas a interesses russos. Se fosse noutro país, teria sido um escândalo, mas nos países da Europa setentrional em geral, e na Alemanha em particular, já se sabe que, por regra, não há escândalos... Mas, apesar de Schröder passar a ser considerado o «homem que os russos compraram», desde 2005 e com Angela Merkel, a política externa alemão tem-se distanciado da Rússia. O futuro veio demonstrar que talvez não o suficiente. Todavia, a verdade é que invasão russa da Ucrânia trouxe Schröder de novo para a ribalta - num mau sentido: sucederam-se as desconsiderações para consigo, nomeadamente a sua expulsão de uma data de cargos honorários, um pesado mau estar à sua volta. Tanto assim que Schröder se sentiu na obrigação de fazer qualquer coisa: foi a Moscovo onde se terá encontrado com Putin a 10 de Março para intermediar. E, evidentemente, quase ninguém deu por isso. Esta história das excelentes relações pessoais entre os grandes dirigentes é muito sobrestimada pela comunicação social que as publicita, porque a verdade evidente é que a sua utilidade desaparece quando os «grandes dirigentes» deixam de «dirigir».

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