Rapallo é uma pequena cidade nos arredores de Génova, na Noroeste de Itália. Foi nessa cidadezinha que, no Domingo de Páscoa de há precisamente 100 anos, alemães (esquerda da foto) e russos (direita) assinaram um surpreendente tratado internacional, reestabelecendo relações próximas entre os dois países. A surpresa da assinatura decorre do facto de ela se ter verificado à margem, mas ao mesmo tempo aproveitando a logística e a disponibilidade, de uma conferência económica e financeira que estava a decorrer precisamente em Génova e que reunia 34 países. As cerimónias de abertura dessa conferência, promovida sobretudo pelos britânicos e protagonizada pelo seu 1º ministro David Lloyd George, haviam tido lugar no dia 10 de Abril. Um dos objectivos da conferência era o de acomodar as duas potências marginais à ordem que saíra do Tratado de Versailles: a Alemanha derrotada em 1918 e a Rússia revolucionária desde 1917. Ora a assinatura deste tratado, ainda a conferência não completara uma semana sequer, era a completa desautorização dos propósitos de Lloyd George. Daí a reacção desagradada que podemos ler abaixo, que foi publicada no Diário de Lisboa dois dias depois. Alemães e russos aliavam-se e preparavam-se para agir concertadamente ainda antes das negociações. Registe-se o pormenor técnico que o tratado foi firmado entre a Alemanha e a República Federativa Socialista Soviética Russa e não com a União Soviética (as cláusulas do tratado foram posteriormente estendidas à Ucrânia, à Bielorrússia e às outras repúblicas da União). Os principais aspectos do tratado eram que a Alemanha e a Rússia retomariam as suas relações diplomáticas e económicas, que haviam sido interrompidas pela guerra e depois perturbadas pela revolução russa e pela guerra civil, beneficiando-se ambas reciprocamente do princípio do tratamento de nação mais favorecida. Este último aspecto foi importante para a Alemanha, porque muita da sua produção industrial continuava a ser boicotada pelos Aliados. Além disso, ambos os estados renunciaram às reparações por danos de guerra e a Alemanha também renunciou às compensações por propriedades anteriormente alemãs que haviam sido nacionalizadas pelos soviéticos. Havia sobretudo um acordo para fornecer à Rússia soviética os equipamentos industriais que permitiriam operar os campos de petróleo de Baku, contornando as empresas ocidentais. Além disso, os alemães comprometiam-se a criar uma rede de distribuição dos produtos petrolíferos russos. O primeiro cliente era a própria Alemanha que pretendia assim diminuir a sua dependência dos cartéis petrolíferos anglo-americanos, que dominavam aquele mercado. Como é evidente, a conferência de Génova estava, a partir dali, condenada ao fracasso.
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