18 abril 2022

HELIGOLAND, A ÚLTIMA POSSESSÃO BRITÂNICA NA ALEMANHA

18 de Abril de 1947. Os britânicos organizam a Operação Big Bang com o aparente intuito de tornar inabitáveis as ilhas de Heligoland. Falharam e aproveito o pretexto para republicar uma breve história daquelas duas ilhas, originalmente publicada em Novembro de 2008. 
Heligoland (Helgoland em alemão) é a designação de um par de ilhas que estão situadas a cerca de 70 km das costas alemães, no Mar do Norte. As ilhas foram conquistadas pela Royal Navy aos dinamarqueses em 1807, por causa da conveniência da sua localização, com a intenção de contrariar o Bloqueio Continental então decretado por Napoleão Bonaparte – note-se como das ilhas (abaixo) se pode controlar, via estuário do Elba, o acesso ao porto de Hamburgo, que ainda hoje é o principal porto alemão. Contudo, apesar da sua localização e de nelas se poder construir um excelente porto natural, as ilhas são extremamente pequenas em extensão, com uma área total que não ultrapassa os 4,2 km². Assim, houve que improvisar para se que arranjassem instalações que fossem adequadas a uma verdadeira base naval. Escavou-se, dado que a ilha principal é uma formação rochosa que se ergue até 60 metros acima do nível do mar (abaixo). E depois do fim das Guerras Napoleónicas (1815), o Reino Unido manteve a posse de Heligoland.
Apesar de se localizar na Alemanha, conquistada pela Royal Navy, tratava-se de uma possessão da Coroa Britânica, numa época em que o Soberano britânico se tornara também (desde 1814), o Rei de Hanôver. Em 1837, a Lei Sálica então em vigor na Alemanha (lei que exclui as mulheres da sucessão ao trono), fez com que o Reino Unido da Inglaterra, Escócia e Irlanda e o Reino de Hanôver, passassem a ter soberanos diferentes: a Rainha Vitória no primeiro caso e o seu tio Ernesto Augusto, no segundo. Contudo, observe-se o selo acima, mesmo depois de 1837 a Raínha Vitória continuou a ser a soberana de Heligoland. Foi só em 1890, no âmbito de um Acordo Colonial anglo-germânico, a respeito das esferas de influência que as duas potências ambicionavam para as suas possessões africanas é que os britânicos se dispuseram a usar a cedência de Heligoland à Alemanha, já então unificada, nesse vasto programa de concessões recíprocas. E os alemães apressaram-se a dar às ilhas precisamente a mesma utilização que os britânicos.
Heligoland foi uma importante base aero-naval alemã (acima) durante a Primeira Guerra Mundial, assim como o tornou a ser durante a Segunda Guerra, quando a base veio a ser violentamente bombardeada pela aviação aliada. Depois do fim da Guerra em 1945, ficou a pertencer (mais uma vez…) à Zona Britânica de Ocupação da Alemanha. As caves para apoio logístico à base naval, que haviam sido inicialmente escavadas por eles, pareciam ter-se tornado agora numa obcecação destrutiva para os britânicos.
Os cálculos iniciais para a destruição das instalações de Heligoland previam 48.400 horas/homem de preparação e 730 toneladas de explosivos. Por via das dúvidas, no dia escolhido para a Operação Big Bang (18 de Abril de 1947) haviam sido instalados mais do quádruplo disso... A segunda maior explosão provocada por explosivos convencionais de sempre, projectou uma nuvem até 2.500 metros de altitude (acima e abaixo), mas depois veio a constatar-se que apenas destruíra 14% da superfície da ilha...
Insatisfeitos, os britânicos continuaram a usar a ilha como alvo para treino de bombardeamento da Royal Air Force. Chegou a haver preparativos para que os ensaios nucleares britânicos viessem a ser ali realizados, mas a ideia acabou por ser abandonada por causa do problema da proximidade das zonas densamente habitadas na Alemanha, Holanda e Dinamarca. Em 1952, os pescadores alemães que se dedicavam à pesca da lagosta, foram finalmente autorizados a regressar. A ilha hoje tem 1.650 habitantes, mas não graças aos britânicos…

3 comentários:

  1. Interessante. Aos britânicos resta-lhes comer uma ou outra lagosta, felizmente, não radioactivas.

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  2. que maravilha. este blog vai ser visita obrigatória sempre que puder ler com mais calma.

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  3. Muito interessante. Meu avô paterno serviu nessa ilha. É uma história de vida muito interessante, por isso me interessei conhecer mais. Ele nasceu em Teterow. Um dia espero escrever e resgatar sua história. Grata.

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