9 de Abril de 1992. Eleições gerais no Reino Unido. Porém a efeméride que eu quero assinalar não são as eleições propriamente ditas, mas o facto de, por causa da novidade que então constituíam as antenas parabólicas colectivas dos prédios, terem sido as primeiras eleições gerais estrangeiras que eu acompanhei directamente, sem necessidade de explicador. O canal - via satélite - era o Sky News, cujo genérico - da época! - se pode apreciar acima. E, para mim, o acompanhamento da noite do escrutínio foi também a da descoberta de todo um ritual novo, a começar pelo anúncio do vencedor da eleição em cada um dos 651 círculos eleitorais. Claro que a transmissão se concentrava naqueles considerados mais prováveis de acontecer alguma coisa. E recordo-me perfeitamente que um círculo em que aconteceu alguma coisa foi o de Bath, no sudoeste de Inglaterra, onde Chris Patten, uma das estrelas em ascensão dos tories, perdeu a eleição para um desconhecido candidato dos liberais-democratas chamado Don Foster. Chris Patten representava Bath no parlamento desde 1979, ganhara as três eleições precedentes (1979, 1983 e 1987) e o que recordo da sua expressão no momento da proclamação dos resultados é que não estava nada à espera de perder a de há 30 anos. Esta fotografia abaixo, da gettyimages, em que o vemos a pronunciar o discurso de aceitação da derrota - enquanto fala, o candidato vencedor aparece à direita - não lhe faz a devida justiça sobre a expressão agoniada de que me lembro. A ironia deste episódio é a sua continuação: como, apesar de tudo e contra as sondagens, os tories ganharam, tiveram que arranjar um cargo para Chris Patten* - o de governador de Hong Kong. O último governador de Hong Kong (1992-97) antes da transferência da soberania daquele território para a China. E, como é tradição britânica, cada vez que eles têm de retirar de algum lado (onde a retirada de Dunquerque é apenas um exemplo mais conhecido do fenómeno), transformam esses episódios em epopeias gloriosas. Em cinco anos Chris Patten deu a volta desde uma humilhante derrota em Bath até uma saída com todos os predicados em Hong Kong. Mas tudo isso estava eu bem longe de imaginar quando assistia às sucessivas proclamações dos círculos nas eleições britânicas de há 30 anos.
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