Todos sabem como a História raramente se repete e, quando isso acontece, a repetição é mais aparente do que substantiva. Atribui-se a Marx a autoria da frase que classifica a primeira versão do acontecimento como uma tragédia e a segunda como uma farsa. Contudo, não resisto a compartilhar esta minha sensação que alguns episódios da invasão russa do Leste da Ucrânia, já os tinha lido em versão muito semelhante há oitenta anos e por aquelas mesmas paragens europeias. Tomemos então esta notícia fresquíssima da conquista da cidade de Mariupol pelos russos e à decisão de Vladimir Putin de se congratular pelo feito, mas fazendo prescindir os seus soldados do assalto aos últimos redutos dos resistentes ucranianos. Agora convido os meus leitores à leitura da passagem que narra a conquista de Stalinegrado pelos alemães no Outono de 1942*, nomeadamente as passagens assinaladas por mim em que Adolf Hitler parece desdenhar dos últimos focos de resistência soviéticos na cidade, focos esses situados precisamente em instalações fabris, a siderurgia «Outubro Vermelho», como parece estar a acontecer também em Mariupol com a «Azovstal». São só coincidências, mas perturbadoras, mesmo que não se queira fazer qualquer esforço para prolongar a associação, já que é conhecido o desfecho da campanha de Stalinegrado para os atacantes, aparentes conquistadores da cidade até certa altura.
* A Segunda Guerra Mundial, Raymond Cartier, Ed. Círculo de Leitores, 1983, 3º Volume, pp. 47-48.
Bem, mas, que eu saiba - e certamente A. Teixeira sabe infinitamente mais que eu - o problema de Estalinegrado para os alemães não foi propriamente os pequenos focos de resistência que permaneceram na cidade, mas sim o contra-ataque russo a partir do exterior dela, ou seja, a manobra do Exército Vermelho que estava fora da cidade no sentido de a cercar completamente, obrigando finalmente os soldados alemães, encurralados dentro da cidade, a render-se.
ResponderEliminarFazendo uma analogia, o problema para os russos não será as poucas centenas de ucranianos que resistem na siderurgia Azovstal, o problema será se as forças ucranianas que estão fora da cidade conseguirem contra-atacar.
Exactamente, Lavoura: o problema para os russos não será as poucas centenas de ucranianos que resistem na siderurgia Azovstal, o problema será se as forças ucranianas que estão fora da cidade conseguirem contra-atacar
EliminarMas não subestime a importância daquelas centenas em ter fixado a atenção e o esforço do inimigo.
Note-se que a minha analogia se fica pelo combate urbano, em instalações fabris e até do mesmo ramo siderúrgico. Eu não estou a projectar nada para o futuro, sugerindo que os ucranianos estão a montar a mesma manobra dos soviéticos em Stalingrado. Não sei. Para essas intimidades com combatentes e gente bem informada, é melhor perguntar ao Nuno Rogeiro.