10 abril 2022

COMO É QUE O GAJO SE CHAMA MESMO?

Hoje, porque há a primeira volta das eleições presidenciais francesas, e porque Francisco Seixas da Costa e José Manuel Fernandes vão, mais uma vez, aparecer em algum canal de televisão a dizer coisas a respeito, republico este grande momento televisivo de há cinco anos. As eleições também se podem tornar momentos repetidamente coreografados da mesma maneira. Para mim, é uma evidência que, perante esta conjuntura instável, Macron será necessariamente reeleito. Contudo, para a comunicação social admitir isso seria perder audiências, influência e receitas. Mas aproveitem para se rir da história.
Isto até parece mal estar para aqui a contar uma história em que um dos protagonistas até é autor de um blogue que se especializou nelas, nas histórias. Mas o que as histórias de Francisco Seixas da Costa têm de característico (pois é dele que estou a falar), é que têm um estilo diplomático, vício de forma profissional. E nesse estilo, a história que aqui quero contar perde a piada, pois a identidade da pessoa que com ele vai contracenar é importante para que se extraia todo o ridículo da cena. E a cena é até por sinal, assaz pública, decorre num estúdio de televisão de um canal que já não posso precisar qual foi, mas foi em directo, que o tema em debate nessa noite de Abril de 2017 era a primeira volta das próximas eleições presidenciais francesas. Presentes, como convidados, o já referido Francisco Seixas da Costa, um habitué naquelas andanças comentadoras, presença neste caso (bem) sustentada pelo facto de ter sido embaixador em França entre 2009 e 2013. Presença muito menos sustentada, a não ser pelo exercício do usucapião, era a de José Manuel Fernandes, que está lá sempre. Variando o tema do cocó à bomba atómica (na inesquecível expressão de Jô Soares), o publisher do Observador é considerado pessoa possuidora de opinião válida sobre tudo. Para mim, essa reputação trata-se de um dos grandes mistérios da comunicação social portuguesa, mas, como diria a Teresa Guilherme, isso agora não interessa nada. O que interessa é que, nessa celebrada noite de análise política sobre os vários candidatos presidenciais franceses, se notava uma acentuada implicância de José Manuel Fernandes com o nome do candidato da esquerda maçónica Jean-Luc Mélenchon. Umas vezes ele era tratado por Mélanchon, quiçá por parecença com o nome de Melâncton, reformador religioso alemão do século XVI, que aquela coisa de José Manuel Fernandes andar a conviver assiduamente com dois depositários de cultura erudita como Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto, pode acabar por ser contagioso. Outras vezes, o mesmo candidato era tratado por José Manuel Fernandes pelo nome de Mélonchon, no que podia passar por ser uma corruptela mais prosaica e vegetal de melocotón, a palavra espanhola para pêssego. Do outro lado da mesa, a expressão de Francisco Seixas da Costa cada vez menos conseguia esconder aquilo que lhe ia na alma em consequência das diatribes do seu companheiro de programa, que nem o nome do candidato das esquerdas das suas antipatias (das antipatias de Fernandes, entenda-se) sabia pronunciar correctamente. Até que não se conteve: e, por muito diplomata profissional que ele tivesse sido habituado a ser, ao tropeçar da enésima menção distorcida do nome do candidato da França Insubmissa, insubmeteu-se ele também e, interrompendo-o, corrigiu a calinada do orador de uma forma ao mesmo tempo ácida, sibilina, impaciente e saturada: Mélenchon! É sempre digno de nota ver um diplomata perder a compostura, especialmente se for para ver alguém de dentro expor em que alicerces assentam os predicados de um dos maiores expoentes do comentarismo televisivo doméstico.

4 comentários:

  1. Mas foi um dos seus momentos de televisão. E considero que agiu em "legítima defesa".

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  2. E Francisco Seixas da Costa também dá, no seu blogue, não poucas calinadas na escrita de nomes estrangeiros...

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  3. Atualmente o nome mais mal pronunciado que ouço por aí é o de Josep Borrell. Ainda ontem o ouvi pronunciar "Iosep Borrel". As variantes do disparate são imensas.
    (Pronuncia-se "Josep Borrelh".)

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