Hoje, porque há a primeira volta das eleições presidenciais francesas, e porque Francisco Seixas da Costa e José Manuel Fernandes vão, mais uma vez, aparecer em algum canal de televisão a dizer coisas a respeito, republico este grande momento televisivo de há cinco anos. As eleições também se podem tornar momentos repetidamente coreografados da mesma maneira. Para mim, é uma evidência que, perante esta conjuntura instável, Macron será necessariamente reeleito. Contudo, para a comunicação social admitir isso seria perder audiências, influência e receitas. Mas aproveitem para se rir da história.
Isto até parece mal estar para aqui a contar uma história em que um dos protagonistas até é autor de um blogue que se especializou nelas, nas histórias. Mas o que as histórias de Francisco Seixas da Costa têm de característico (pois é dele que estou a falar), é que têm um estilo diplomático, vício de forma profissional. E nesse estilo, a história que aqui quero contar perde a piada, pois a identidade da pessoa que com ele vai contracenar é importante para que se extraia todo o ridículo da cena. E a cena é até por sinal, assaz pública, decorre num estúdio de televisão de um canal que já não posso precisar qual foi, mas foi em directo, que o tema em debate nessa noite de Abril de 2017 era a primeira volta das próximas eleições presidenciais francesas. Presentes, como convidados, o já referido Francisco Seixas da Costa, um habitué naquelas andanças comentadoras, presença neste caso (bem) sustentada pelo facto de ter sido embaixador em França entre 2009 e 2013. Presença muito menos sustentada, a não ser pelo exercício do usucapião, era a de José Manuel Fernandes, que está lá sempre. Variando o tema do cocó à bomba atómica (na inesquecível expressão de Jô Soares), o publisher do Observador é considerado pessoa possuidora de opinião válida sobre tudo. Para mim, essa reputação trata-se de um dos grandes mistérios da comunicação social portuguesa, mas, como diria a Teresa Guilherme, isso agora não interessa nada. O que interessa é que, nessa celebrada noite de análise política sobre os vários candidatos presidenciais franceses, se notava uma acentuada implicância de José Manuel Fernandes com o nome do candidato da esquerda maçónica Jean-Luc Mélenchon. Umas vezes ele era tratado por Mélanchon, quiçá por parecença com o nome de Melâncton, reformador religioso alemão do século XVI, que aquela coisa de José Manuel Fernandes andar a conviver assiduamente com dois depositários de cultura erudita como Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto, pode acabar por ser contagioso. Outras vezes, o mesmo candidato era tratado por José Manuel Fernandes pelo nome de Mélonchon, no que podia passar por ser uma corruptela mais prosaica e vegetal de melocotón, a palavra espanhola para pêssego. Do outro lado da mesa, a expressão de Francisco Seixas da Costa cada vez menos conseguia esconder aquilo que lhe ia na alma em consequência das diatribes do seu companheiro de programa, que nem o nome do candidato das esquerdas das suas antipatias (das antipatias de Fernandes, entenda-se) sabia pronunciar correctamente. Até que não se conteve: e, por muito diplomata profissional que ele tivesse sido habituado a ser, ao tropeçar da enésima menção distorcida do nome do candidato da França Insubmissa, insubmeteu-se ele também e, interrompendo-o, corrigiu a calinada do orador de uma forma ao mesmo tempo ácida, sibilina, impaciente e saturada: Mélenchon! É sempre digno de nota ver um diplomata perder a compostura, especialmente se for para ver alguém de dentro expor em que alicerces assentam os predicados de um dos maiores expoentes do comentarismo televisivo doméstico.
Não me recordava!
ResponderEliminarMas foi um dos seus momentos de televisão. E considero que agiu em "legítima defesa".
ResponderEliminarE Francisco Seixas da Costa também dá, no seu blogue, não poucas calinadas na escrita de nomes estrangeiros...
ResponderEliminarAtualmente o nome mais mal pronunciado que ouço por aí é o de Josep Borrell. Ainda ontem o ouvi pronunciar "Iosep Borrel". As variantes do disparate são imensas.
ResponderEliminar(Pronuncia-se "Josep Borrelh".)