07 agosto 2021

ATÉ FICARÍAMOS DESAPONTADOS SE NÃO HOUVESSE UM COMUNISTA QUE IMPLICASSE COM A MEDALHA DO PICHARDO

Ele há coisas que são previsíveis: a conquista da medalha de ouro olímpica por parte do atleta Pedro Pichardo iria ser digerida com uma grande dose de azia. Força é reconhecer que, por sinal, a grande maioria das azias vieram de outro lado, e que as hostes comunistas até se mostraram disciplinadas no seu silêncio, não apenas a respeito desse assunto, como também do episódio da atleta bielorrussa que desertou ao bom velho estilo da cortina de ferro. O que nos importa aqui é que o silêncio generalizado dos camaradas obrigou aqueles que contavam com a previsível cena a redobrados esforços de pesquisa, até mesmo a vasculhar as redes sociais, à procura do cromo comunista que não se tinha contido e dado troco ao anti-comunismo essencial das declarações de Pichardo (mais crítico do regime cubano do que propriamente da ideologia). Encontraram-no no facebook, na pessoa de Miguel Viegas, figura destacada dos comunistas aveirenses, apesar de candidato falhado (nas palavras do próprio) às últimas eleições de 2019. Viegas falhou no convencimento dos eleitores nestas últimas eleições e não estará nas melhores graças na hierarquia do partido, mas as suas declarações contêm aquela «filigrana» típica de um verdadeiro dialéctico, insinuando sem afirmar, o estilo a que nos habituámos há décadas, e de que os profissionais andavam à procura. E nisso estará de parabéns Miguel Viegas, e merecerá a projecção que recebeu, já que esta «arte de filigrana argumentativa» parece estar a extinguir-se, é cada vez mais difícil encontrar quem a pratique, as famosas dúvidas do actual presidente da câmara de Loures quanto à natureza não democrática do regime norte-coreano são hoje uma longínqua memória.

2 comentários:

  1. No fundo, a afirmação do ex-eurodeputado está "certa". A medalha não foi feita em Portugal, logo, portuguesa não é, como não seria um par de sapatos fabricado em Itália, por exemplo.

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  2. Esse foi um excelente exercício para nos alargar as perspectivas do que pode ser a natureza e a origem da medalha de Pichardo.

    Quando alguém desconversa - como o fez neste caso, o camarada Miguel Viegas - é sempre divertido mostrar-lhe como lhe podemos roubar a iniciativa, levando a sua (des)conversa mais longe, até às raias do absurdo.

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